|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
"A FLOR DO MEU BEM-QUERER"
Autor trata de corrupção e expõe artimanhas de caipira e de homens que estão no poder
Juca de Oliveira ri de "lideranças defeituosas"
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
"Caixa 2" (1997-2001) até citava
políticos, mas eles não interagiam
com a história do banqueiro sem
escrúpulos que desviava dinheiro
para a conta da amante. Agora, o
comediógrafo Juca de Oliveira,
empenhado nas variações da corrupção, bate direto à porta dos gabinetes de Brasília.
De Lula a ACM, passando por
FHC e Heloísa Helena, ninguém
escapa da sátira em "A Flor do
Meu Bem-Querer", nova peça escrita e protagonizada por Oliveira, 68, de "Meno Male" (1987-91).
O espetáculo estréia amanhã no
teatro Cultura Artística. A direção
é de Naum Alves de Souza (do recente "Longa Jornada de um Dia
Noite Adentro"). Renato Teixeira
compõe a trilha, com temas do
campo e jingles de políticos.
Em "A Flor do Meu Bem-Querer", Zé Otávio (Oliveira) é senador e candidato à Presidência da
República. Impossibilitado de
mexer no dinheiro depositado na
Suíça, ele tenta vender sua fazenda, a Bem-Querer, para investir
na campanha.
Os colonos resistem a deixar o
local para o negócio. O chefe da
família, Nho Roque (Genézio de
Barros), que é caipira, mas não é
bobo, usa como argumento a suspeição de que o senador, casado, é
pai do bebê de Flor (Dominique
Brand), a moça mais desejada daquelas plagas. Um escândalo derrubaria a candidatura, daí a confusão armada.
Acrescente-se um festival de
testes de DNA, as artimanhas do
assessor político do senador
(Eduardo Galvão), da amante do
senador (Cláudia Mauro), da mulher e da secretária do mesmo,
ambas na voz em off de Marília
Pêra, e do núcleo da fazenda (Barros, Brand e Jussara Freire) falando o "caipirês", cuja inspiração
Oliveira foi buscar na região de
Itapira (SP), onde tem fazenda, e
no livro "Os Parceiros do Rio Bonito", de Antonio Candido.
"Os homens são defeituosos.
Quando se escreve sobre uma liderança política ou financeira, a
classe dominante, vai-se cair sempre no campo da comédia", diz o
autor, que trocou a advocacia pelo teatro há mais de meio século.
"O Édipo [personagem do teatro grego que dorme com a mãe e
mata o pai sem sabê-los como
tais] escolheu investigar o crime
até o fim, a despeito de descobrir
que era o assassino. Mas os políticos, quando vão perseguir um crime contra a sociedade, param no
meio do caminho, mandam engavetar porque serão atingidos. Passam para o campo da comédia. Se
fossem até o fim, poderiam ser
heróis trágicos."
Não se espere o engajamento à
moda do teatro que Oliveira empreendeu no início da carreira
(anos 50 e 60), tomado sobretudo
pelas mãos de Augusto Boal, o
criador do Teatro do Oprimido.
"Continuo sensível a essa horrível distribuição de renda no país,
cada dia mais grave, mas não
acredito no teatro de proselitismo. São questões que discutíamos 40 anos atrás, quando éramos jovens e achávamos que iríamos fazer a revolução por meio
do teatro", diz o ex-militante comunista e sindical.
Em 1962, por exemplo, ele interpretou um coronel em "Mutirão
em Novo Sol", de Boal, Nelson
Xavier e Chico de Assis. A peça foi
apresentada num congresso de
camponeses em Belo Horizonte e
numa conferência de lavradores
em São Paulo, como atividade ligada ao Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC-UNE).
"Ao invés de ficar discutindo
[os problemas], eu boto no papel,
transformo em teatro."
A FLOR DO MEU BEM-QUERER. De:
Juca de Oliveira: Direção: Naum Alves de
Souza. Com: Juca de Oliveira, Juan Alba,
Jussara Freire e outros. Onde: teatro
Cultura Artística -°sala Esther Mesquita (r.
Nestor Pestana, 195, tel. 3258-3616).
Quando: estréia amanhã, às 21h; de qui.
a sáb., às 21h; dom., às 18h. Quanto: de
R$ 40 a R$ 90. Patrocinador: Microsiga.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Festival de São José do Rio Preto: Polonês Leszek Madzik opõe teatro visual à poluição de imagens Índice
|