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Cia. Livre encena o cotidiano vazio de Fransz Xaver Kroetz
DO ENVIADO A SÃO JOSÉ DO RIO PRETO
Pouco conhecido nos palcos do
país, com raras exceções como a
montagem da peça "Depois do
Expediente", protagonizada por
Ileana Kwasinski e dirigida por
Francisco Medeiros nos anos 80,
o alemão Fransz Xaver Kroetz
(1946) é eleito dramaturgo da vez
da Cia. Livre, surgida há cerca de
cinco anos em São Paulo e defensora de espetáculos premiados
como "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee Williams, e
"Toda Nudez Será Castigada", de
Nelson Rodrigues.
Trata-se de uma trilogia com
textos de Kroetz. Inclui o mesmo
"Depois do Expediente", com direção de Cibele Forjaz, além de
"Cidade Alta", por Raquel Tamaio, e "O Ninho", por Isabel Teixeira.
Rio Preto vê a estréia nacional
dos dois últimos espetáculos, respectivamente ontem e hoje, num
galpão do lugar-Nenhum.
Teixeira e Tamaio destacam na
dramaturgia de Kroetz a abordagem "delicada e dura" do cotidiano e a impossibilidade da comunicação entre as pessoas. Escritas
nos anos 70, as histórias se passam entre quatro paredes.
Em "Cidade Alta", José (Eucir
de Souza) e Anni (Tatiana Thomé) são um casal de trabalhadores que vivem o dilema do aborto.
Espécie de continuação, "O Ninho" traz a história do motorista
João (Souza) e da costureira Marta (Tamaio). Ele é envolvido em
crime ecológico, despeja tóxico
num lago. Tempos depois, a mulher e o filho tomam banho no
mesmo lago e são contaminados.
O bebê corre risco de morte. João
denuncia seu patrão, mas a consciência ainda o faz questionar se
está agindo certo ou errado.
"É uma sinfonia do cotidiano
não-teatralizado", diz Isabel Teixeira, 29, grávida de sete meses e
meio. "As pausas em Kroetz não
são dramáticas, como em [Anton] Tchecov, são mais secas, refletem o vazio das relações", afirma Raquel Tamaio, 28.
"Cidade Alta" e "O Ninho" foram traduzidas por Christiane
Röhrig, enquanto "Depois do Expediente", sobre uma mulher exilada em sua casa, por Francisco
Medeiros. Esta tem previsão de
estréia para 2004, quando a trilogia deve entrar em cartaz.
(VS)
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