São Paulo, domingo, 22 de julho de 2007

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Preferência nacional

Pesquisa Datafolha revela que a Banda Calypso e Zezé Di Camargo e Luciano são os artistas mais populares do país; para críticos, resultado aponta para mudanças na difusão e consumo de música

Caio Guatelli -21.nov.2005/Folha Imagem
O casal Chimbinha e Joelma, da Banda Calypso


MARCO AURÉLIO CANÔNICO
TEREZA NOVAES

DA REPORTAGEM LOCAL

Eles são conhecidos como artistas populares, e uma pesquisa inédita do Datafolha revela agora que o título é muito adequado: os paraenses da Banda Calypso e a dupla Zezé Di Camargo e Luciano são os músicos mais ouvidos do Brasil.
A pesquisa, encomendada pela agência de publicidade F/ Nazca Saatchi & Saatchi, abordou 2.166 pessoas em 135 cidades de todas as regiões do país com a pergunta: "Qual é o cantor, cantora ou banda que você mais tem escutado?"
Somadas todas as menções, a Calypso foi escolhida por 14% dos entrevistados, enquanto Zezé Di Camargo e Luciano tiveram 12% da preferência.
Como a margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para cima ou para baixo, o tecnobrega dos paraenses e o sertanejo romântico dos goianos estão tecnicamente empatados no primeiro lugar.
"Ô, glória!", foi a reação do evangélico Chimbinha, guitarrista da Calypso, ao ser informado sobre a liderança no gosto popular. "É uma surpresa muito grande."
Já Zezé Di Camargo se mostrou menos espantado. "Sem querer ser arrogante, não vejo com surpresa o resultado. O número de pessoas que vemos nos shows já indicava isso."
O segundo lugar entre os artistas citados registra novo empate, entre os sertanejos Bruno e Marrone (10%) e Roberto Carlos (8%), mas seus fãs são tão numerosos quanto as pessoas que disseram não estar ouvindo nenhum artista (10%).
A liderança no gosto popular é explicada de modo semelhante pelos artistas. "Nossas letras são fáceis de assimilar, e nós fazemos um som muito verdadeiro, tocamos só o que gostamos e o público se identifica com isso, sabe que temos um compromisso com ele", diz Chimbinha.
"A Calypso é a verdade do povo brasileiro. O Chimbinha é um guitarrista genial. Ao mesmo tempo em que são musicalmente interessantes, eles têm uma coisa superbrega, que é a cara do Brasil", elogia Eduardo Miranda, produtor e jurado do programa do SBT "Ídolos".
"Há vários fatores [para explicar o sucesso]: gravar um repertório de fácil assimilação pelo público é importante, ser fiel à audiência conquistada e tentar coisas diferentes, fazer parcerias inusitadas, como as que fizemos com Chico Buarque e Ivete Sangalo", diz Zezé.
"Zezé Di Camargo e Luciano são ótimos músicos, Roberto Carlos é inquestionável, Bruno e Marrone cantam músicas melódicas. É o que o público quer", afirma o crítico e jornalista Luís Antônio Giron, editor da revista "Época".
No restante da lista, que chama a atenção pela ausência quase total de astros internacionais (U2 e Rebeldes são os únicos, com 1% cada), Daniel, Leonardo, Ivete Sangalo e Calcinha Preta estão empatados no terceiro lugar, variando entre 7% e 5% da preferência.

"Dormi na Praça"
A explicação de Zezé e Chimbinha sobre as letras acessíveis para o público coincide com outro dado da pesquisa: sua audiência é maior entre as pessoas de menor escolaridade.
"O público em geral gosta de música para dançar com mensagens otimistas ou músicas de amor, com melodias fáceis de gravar", concorda Giron.
"Existe uma identificação imediata entre o público e o romantismo. Roberto Carlos é o maior exemplo", diz o crítico Pedro Alexandre Sanches.
"Romântico é forte, é a música que conquista a pessoa pelo coração", diz Bruno, que faz parceria com Marrone.
A dupla estourou com o hit "Dormi na Praça". A música foi regravada pela dupla no CD "Acústico ao Vivo", de 2001. "Foi a partir daí que passamos a fazer sucesso nos grandes centros, Rio de Janeiro e São Paulo, e no Nordeste", diz Bruno.
"Os nomes que hoje lideram e trabalham com as grandes gravadoras já eram muito conhecidos pelo Brasil quando foram contratados e seguiram uma carreira tradicional", afirma o antropólogo Hermano Vianna, consultor da F/Nazca Saatchi para a pesquisa.


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