São Paulo, quarta, 22 de julho de 1998

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Surrealismo e dadaísmo viram artes e cinema de ponta-cabeça

Reprodução
"A Metamorfose dos Amantes", obra de André Masson, artista surrealista francês que está na Bienal



Dois movimentos estão em sala na Bienal e em 4 outras exposições; Dalí no Masp já recebeu 84 mil visitantes


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

"Surrealismo é o puro automatismo psíquico através do qual se deseja exprimir, verbalmente ou por escrito, a verdadeira função do pensamento. Pensamento ditado na ausência de qualquer controle exercido pela razão, fora de toda preocupação estética ou moral." André Breton, 1924

"Dadá não significa nada, dadá foi produzido na boca." Manifesto Dadá, 1917

Foi assim, nas primeiras décadas deste século, que tudo mudou. O dadaísmo deu o pontapé inicial -e logo foi acompanhado pelo surrealismo- para a criação de uma nova forma de produzir, mas, principalmente, ver arte.
Foi Duchamp quem teve a grande idéia. Em 1916, prendeu uma roda de bicicleta em uma banqueta e criou o ready-made "Roda de Bicicleta". O mundo das artes nunca mais seria o mesmo.
O objetivo do dadaísmo era questionar os valores da arte a partir da valorização dos objetos e procedimentos do cotidiano. O olhar não deveria ser contemplativo, mas questionador.
A arte não seria mais elitista, mas cotidiana. Segundo Duchamp, era o olhar do espectador que deveria transformar o objeto em arte.
Mas enquanto o dadaísmo propunha uma nova relação do homem com o meio, o surrealismo queria uma nova relação do homem com seu inconsciente, de onde retiraria imagens puras, sem interferências sociais.
A influência dos dois movimentos pode ser facilmente notada em uma série de eventos na cidade.
A Bienal de São Paulo, por exemplo, lhes dedica uma sala no núcleo histórico, curada por Dawn Ades e Didier Ottinger. "Teremos trabalhos de André Masson, Francis Picabia, Marcel Duchamp, Max Ernst, René Magritte e Salvador Dalí. Teremos ainda uma seleção maravilhosa de fotografias de Man Ray e Jacques André Boiffard, entre outros", disse a curadora Dawn Ades. Nenhum outro movimento artístico terá sala especial no evento.
A Bienal, que acontece entre 4 de outubro e 13 de dezembro, contará ainda com salas dedicadas ao belga René Magritte e ao chileno Roberto Matta.
Além da Bienal, pelo menos quatro artistas contemporâneos que se utilizam de preceitos dadaístas e surrealistas estão com mostras em cartaz (leia quadro ao lado).
O Masp (av. Paulista, 1.578, tel. 011/251-5644) abriga até 9 de agosto a mostra "Dalí Monumental", que reúne 476 fotografias, objetos, colagens, gravuras e -poucas- pinturas daquele que, com muito marketing, se tornou sinônimo de surrealismo: Salvador Dalí. A mostra recebeu, até domingo último, 84.007 visitantes.




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