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Músicos manipulam cobras para tocar melhor
da Reportagem Local
No blues, o mito do pacto com o
diabo para aprender a tocar tem
várias versões, a mais famosa
imortalizada por Robert Johnson
em "Crossroads".
O próprio Johnson, que morreu
ainda jovem, envenenado -possivelmente por um marido traído-, teria feito um pacto desses.
Essas histórias também fazem
parte do folclore em torno do violeiro.
"Os violeiros antigos acreditam
que tocar é um dom de Deus. Se a
pessoa não nascer com o dom, não
vai conseguir tocar, a não ser que
faça um trato com o demônio",
conta o violeiro Roberto Côrrea.
A história de acordos com diabo
em troca da própria alma é universal, mas achar alguém que tenha
feito o tal pacto é um pouco mais
difícil. Tanto quanto encontrar
quem tenha ido a algum cemitério
invocar a alma de um grande violeiro para que ele "o abençoasse",
por assim dizer.
Há simpatias mais fáceis. É costume entre os violeiros enfiar um
chocalho de cascavel dentro da
viola.
"É para o som ficar mais bonito.
E também evita mal olhado", explica o violeiro Pena Branca, o da
dupla com Xavantinho.
Mas ele salienta: "o chocalho
não pode ser comprado, senão não
serve."
Outra história bem frequente no
meio é a de que para tocar bem deve-se deixar uma cobra coral se enrolar na mão. Como todos os folclores, essa história tem várias versões. Eis uma delas:
"É preciso andar no mato várias
noites, na trilha do gado. Uma noite vai ter uma cobra coral esperando. A pessoa tem que pegar a cabeça da cobra com o polegar e o indicador da mão direita. Então, é preciso deixar a cobra se enrolar nos
dedos da mão esquerda, evitando
que ela toque no polegar", conta
Roberto Corrêa.
Depois, é preciso soltar a cobra
no mesmo lugar onde ela foi apanhada.
Mas por que essa precisão em relação aos dedos? Segundo os violeiros, é porque, na mão direita, o
indicador e o polegar são usados
para o ponteado (um tipo de dedilhado). Na mão esquerda, a cobra
não pode encostar no polegar porque, senão, ele vai querer tocar
também.
Xavantinho diz que deixou o
réptil se enroscar em sua mão.
"Era a vontade de aprender a fazer
alguma coisa. Ainda bem que o bicho era manso", ri.
Não foi o único. "Deixei a cobra
passar na mão para amaciar os dedos. Mas isso não serve para
aprender a tocar, não. É para os
dedos ficar maduro" (sic), diz Zé
Côco do Riachão, 85, que começou a tocar aos 7.
Sendo um dos mais velhos violeiros em atividade, Zé Côco admite que "perdeu a agilidade e o entusiasmo nos dedos."
Isso não significa que esteja procurando outra cobra para enrolar
na mão. "A que eu passei está valendo até hoje", assegura.
(LAR)
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