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LIVRO/LANÇAMENTO
Almanaque é fosfosol para a TV brasileira, 50 anos
Reprodução
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Programa do Chacrinha, um dos marcos da televisão brasileira, que ganha almanaque aos 50 anos |
MARCELO TAS
ESPECIAL PARA A FOLHA
E ste ano cheio de zeros parece não ter fim. Mês que vem, a
TV brasileira completa 50 anos. E
a sua memória, como quase tudo
no país, é um caso de polícia.
Acredito que, basicamente, são
dois motivos.
Por preguiça ou ignorância (ou
uma combinação de ambos), os
intelectuais brasileiros ainda não
conseguiram produzir livros em
número compatível com a importância do veículo no Brasil.
O segundo motivo é de polícia
mesmo. A TV brasileira é recordista mundial em número de incêndios. A combinação de incêndios com o avassalador calor tropical derreteu nas prateleiras boa
parte do acervo histórico. Na década de 60, era tanto incêndio,
que um jornal de São Paulo deu a
manchete: "Está no ar mais um
incêndio da TV Record".
Com tanta tragédia e pouca informação sobre a TV brasileira,
devemos "rrrrrrrrreceber com
uma salva de palmas", como diria
Chacrinha, um livro como o "Almanaque da TV".
Seu autor, o roteirista Rixa, é
uma prova viva da fragilidade da
memória televisiva no Brasil. Conheci o rapaz na Rede Globo, em
1986. Eu era o apresentador do
"Video Show". O Rixa, moleque
de barba rala, antes da chegada
dos computadores, era como um
"hard disk" da emissora.
Sabia, de cabeça, em que prateleira encontrar a cena do crime de
Salomão Hayala, em "O Astro".
Ou a bofetada na cara de Odete
Roitman. E centenas de cenas
desconhecidas, perdidas na memória dos telespectadores. Sua fama começou a circular pelos corredores, e o Rixa passou a ser consultado com frequência.
O que não sabia de cabeça, ele
carregava numa mochila, em pastas de papelão, estufadas com manuscritos, papéis datilografados e
xerox anotados nas beiradinhas.
No "Almanaque da TV", Rixa
organizou e entrega as pérolas
que colheu durante todos esses
anos de TV Globo. Você acredita
que a "pegadinha" foi inventada
em 1948? E a "videocassetada",
em 1963? Acredite, porque é verdade. Mas, difícil mesmo é acreditar que o Boni é o inventor das
chacretes e que a Camila Pitanga
já foi paquita da Angélica!
A grande virtude do livro é o
amor do autor pelo seu ofício. E
justamente aí reside também uma
importante lacuna. Inevitavelmente, o livro oferece mais detalhes das histórias da Globo que de
outras emissoras. Assim, a primeira metade da história -principalmente as três primeiras décadas- ficam muito mais ricas e saborosas do que os anos 80 e 90.
E é justamente nessas duas últimas décadas que deve estar o "x"
para entender a riqueza e miséria
do caos televisivo que vivemos
hoje. São as décadas mais complexas. Nas quais a qualidade técnica
cresceu, o público começou a usar
o controle remoto e artistas de outros meios, que não rádio e teatro
de revista como os pioneiros, chegaram e criaram novas linguagens para a telinha. E para as futuras telas que virão por aí.
Fica o desafio para os estudiosos
que apenas sabem resmungar que
a TV é a grande vilã do século.
Responsável pela violência, pela
eleição de Collor, pelo bode do
domingo e até por deixar cachorro vesgo!
Marcelo Tas é apresentador e diretor do
"Vitrine", da TV Cultura
Almanaque da TV
Autor: Rixa
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 28,50 (288 págs.)
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