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CINEMA/ESTRÉIAS
"PRIMAVERA PARA HITLER"
Em comédia de 68, ponto forte é Zero Mostel
Brooks exagera no burlesco
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Uma coisa que não falta são
comédias a ser relançadas,
em particular dos anos 60/70. Poderia ser "A Pantera Cor-de-Rosa" (toda a série), os primeiros
Woody Allen, os últimos Jerry Lewis. Seria possível fazer vir da
França o raro Pierre Étaix. E na
Itália há tanta coisa que convém
nem começar a listagem.
De tudo, o destino optou por
nos fazer rever "Primavera para
Hitler", portanto um filme do início da carreira de Mel Brooks.
Brooks participou durante certo
tempo de uma segunda linha
bem-sucedida da comédia americana, dedicada essencialmente a
paródias. A eficácia de seu humor
murchou em pouco tempo -o
que é característico do paródico.
"Primavera para Hitler" é de
um momento anterior e parte de
uma trama muito inventiva (com
roteiro de Brooks): Zero Mostel é
um produtor teatral falido que se
associa a um contador até então
honesto (Gene Wilder), quando
ambos descobrem que um fracasso pode render muito mais aos
produtores do que um sucesso.
O segredo é vender, digamos,
1000% da produção a cotistas.
Com o fracasso, não haverá dividendos a pagar. Os primeiros
100% destinam-se a pagar a produção. Os restantes 900% vão para o bolso dos produtores. Obviamente, algo acontece que emperra o engenhoso trambique.
Para ver o filme convém lembrar que ele é de 1968, portanto
havia embutida aí a idéia de certa
contestação, ou pelo menos de
descompromisso com a visão oficial, "careta", do mundo. Trambicar não era bem um crime, mas
um ato anti-social, que desafiava
uma ordem tida por obsoleta, ou
reacionária, ou ambas as coisas.
Daí se pode entender, também,
a evolução de Mel Brooks para o
humor paródico (gozação com
Hollywood, com "o sistema"
-mas também um recuo considerável em relação a esse primeiro e insubordinado sucesso).
Se a idéia de "Primavera para
Hitler" até hoje parece original, a
direção de Mel Brooks continua
não entusiasmando muito. Aquilo que poderia ser, no papel, sugestão delicada (caso das velhinhas que sustentam o produtor),
torna-se na tela algo um tanto escabroso -de tão pesada que é a
mão de Mel Brooks.
A comédia nem sempre vem do
exagero, e com frequência vem da
contenção. Brooks acredita no
exagero burlesco, mesmo quando
ele é francamente desaconselhável. Isso enfraquece consideravelmente a comédia, que tem em Zero Mostel o ponto forte.
Primavera para Hitler
The Producers
Produção: EUA, 1968
Direção: Mel Brooks
Com: Gene Wilder, Zero Mostel
Quando: nos cines Frei Caneca
Unibanco Arteplex e Cinearte
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