São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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Escritor cria "monumento" aos filhos de Itararé

Personagem de Belmonte homenageado em "Entre sem Bater", de Pimentel

DA REPORTAGEM LOCAL

Alheio às discussões sobre o que é caricatura, o que interessa ao escritor e humorista Luís Pimentel é exigir das autoridades "a criação de um monumento ao humorista desconhecido".
Seu "Entre sem Bater! O Humor na Imprensa Brasileira", que a Ediouro acaba de colocar nas livrarias, deixa de lado o rigor de uma pesquisa histórica para levar o leitor a uma viagem no tempo pela história do humor nas páginas das publicações do país.
Apesar da menção aos pioneiros da arte do lápis, mais de século e meio atrás, é em Aparicio Torelly, o Barão de Itararé, um humorista de texto, que o escritor foca grande parte de sua atenção.
Fundador do jornal "A Manha" (1926), uma das principais vozes críticas ao Estado Novo, é do barão a frase que dá nome ao livro de Pimentel. Preso diversas vezes pela ditadura de Vargas, o insistente humorista resolveu afixar à porta da redação do jornal a advertência: "Entre sem Bater!".
"O Barão de Itararé foi uma das principais influências de todos os humoristas que começaram a escrever depois dele", justifica.
Escoladas na resistência do barão, publicações posteriores que carregavam nas tintas políticas também têm destaque na obra. Lançado em 1969 e submetido à pressão constante da censura militar, na época, "O Pasquim" foi uma das mais duradouras iniciativas da história do humor brasileiro, circulando, ainda que um pouco mal das pernas, até 1992.
Dez anos depois, o mesmo Ziraldo lançaria seu "O Pasquim 21", assim descrito por Pimentel: "Os anunciantes não cumpriram o prometido, e o jornal chegou ao primeiro trimestre de 2004, data em que este capítulo foi redigido, com tiragem e resultados de bancas abaixo dos previstos e necessários. Mas sobrevivendo".
Por ironia sem graça do destino, a publicação chegou às bancas pela última vez ontem, na forma de um terceiro e último almanaque, recuperando os melhores momentos de "O Pasquim 21".
"Hoje, com a liberdade que temos, os jornais podem publicar de tudo. Fechou-se esse nicho de mercado", revê agora Pimentel. Será culpa da abertura política? "As publicações de humor perderam um pouco de seu charme com a democracia. Mas é muito melhor viver assim do que viver de glamour levando porrada."
"As grandes revistas de humor no mundo estão acabando. A "Punch" morreu, a "Mad" é coisa ultrapassada, a "New Yorker" está mudando a linguagem. Talvez o público esteja menos a fim disso hoje", afirma Ziraldo. "O curioso é "O Pasquim" sair do ar justamente quando a censura está tentando voltar. Nós não somos covardes." (DA)


ENTRE SEM BATER! O HUMOR NA IMPRENSA BRASILEIRA. Autor: Luís Pimentel. Lançamento: Ediouro. Quanto: R$ 32,90 (112 págs.).


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