|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Freak folk
Estrela do novo folk, a dupla CocoRosie mostra suas raízes hippies em SP e Recife
ADRIANA FERREIRA SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Thank you God for this, oh,
this fine day" ou, em bom português, "Obrigada Deus por esse ótimo dia". Esse é o primeiro
verso de "Noah's Ark" (Arca de
Noé), nome da canção que batiza o segundo álbum da dupla
norte-americana CocoRosie.
Deve ser mais ou menos assim que os fãs das irmãs Bianca
e Sierra Casady estão agradecendo aos céus pelos shows que
elas fazem no Brasil, na próxima semana. Numa daquelas sacadas que poucos têm, dois festivais -veja o quadro ao lado-
trazem as moças ao país no auge de sua ainda curta, mas muito badalada carreira.
Bianca "Coco", 24, e Sierra
"Rosie", 26, juntaram seus apelidos de infância em 2003, depois de uma temporada trancadas num apartamento, em Paris, gravando todo tipo de esquisitices que lhes passava pela
cabeça. O resultado de oito meses de tardes regadas a champanhe francês foi um registro em
CDR, que elas passaram a distribuir para os amigos.
Até aí, nenhuma novidade
em gravar umas fitinhas e presentear os chegados. Só que
quando estes são músicos bambambãs como Devendra Banhart, namorado de Bianca, e
Antony, do Antony and the
Johnsons, há o risco de sua piração ir parar numa gravadora
-e foi o que aconteceu.
O selo canadense Touch and
Go ouviu o CDR, adorou e lançou "La Maison de Mon Rêve",
disco que passou a integrar a
cena "neofolk" ou "freak folk"
[leia à pagina 2], cujo expoente
mais famoso é Devendra Banhart, atração do Tim Festival,
em outubro.
"La Maison" chamou a atenção da imprensa internacional,
que amou, e também odiou, os
vocais etéreos, às vezes sussurrados, e a atmosfera onírica,
que as duas irmãs imprimiram
a sua estréia em CD.
Hippies
Além do interesse musical, a
infância das duas rendeu uma
porção de histórias -e também
de lendas-, por conta da mãe,
artista nômade, descendente
de índios americanos, e do pai,
que as levava para sessões de
xamanismo regadas a chás alucinógenos. Na adolescência, as
duas se separaram: Sierra foi
para Paris estudar ópera e
Bianca ficou em Nova York,
dando aulas de poesia. Sabendo
disso tudo, dá para entender
porque o álbum é tão "freak" e
elas, tão hippies.
"A maneira como fizemos o
primeiro disco provavelmente
chocaria você", falou Sierra à
Folha. "Esse CD é inspirado
pela música clássica e pelo
gangsta rap. Quando gravamos,
estávamos fazendo algo hardcore, duro e cruel. Mas, quando
finalmente ele veio ao mundo,
as pessoas pensaram o oposto:
acharam vulnerável e gentil."
Com a intensão de serem duronas, as duas teceram uma sonoridade "soft", utilizando harpas, teclados, barulhos de colheres, de chacoalhar de jóias.
"Os instrumentos não eram
importantes. O que importava
era a força por trás das histórias. Algumas vezes, usamos somente a voz, com pequenos objetos que encontrávamos no
apartamento", explica Sierra.
"Foi um processo de documentação daquela experiência
pessoal", afirma ela. "Fizemos
uma viagem astral e nos envolvemos numa espécie de jornada psicodélica através de nossa
imaginação. Experimentamos
os diferentes sons do mundo."
Ainda que algumas letras sejam contundentes e outras, polêmicas, como "Jesus Loves
Me", que alguns consideram
"racista", o que impressiona
são os vocais, que, no segundo
disco, "Noah's Ark", ganharam
reforço de Antony, cantando a
belíssima "Beautiful Boyz"; de
Devendra, em "Brazilian Sun"
-um sonho de Sierra com "o alvorecer no Brasil"-; e do MC
francês Spleen, que participa
dos shows da dupla no país.
Ao vivo, diz Sierra, o som é
muito diferente do CD. "Para
nós, a performance é como um
ritual, uma cerimônia. Ficamos
intensamente fascinadas e envolvidas." Pela descrição, dá para imaginar o que vem por aí...
Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta Próximo Texto: Outro Canal - Daniel Castro: Globo promove Oscar do cinema brasileiro Índice
|