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Crítica/"O Procurado"
Ação cai em cilada ao buscar "reflexão"
Baseado em HQ e com ritmo que já prende a atenção do público-alvo, longa com Jolie e Freeman perde tempo com "conteúdos'
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Nunca se sabe bem
quando começou, mas
certamente foi a partir
de "Matrix" que virou mania
sobrecarregar "blockbusters"
com conteúdos, digamos, "filosóficos". Agora parece que não
bastam mais o ritmo incessante, as explosões milimetricamente calculadas e os efeitos
visuais que alguém se disponha
a deixar o conforto de casa e a
pagar caro para assistir ao filme
no cinema.
É preciso também dar ao público a impressão de que vai encontrar mais do que mero entretenimento. E este algo a
mais costuma vir com o pomposo nome de "sabedoria".
Depois de atravessar camadas do tempo na trilogia "O Senhor dos Anéis", bater no fundo do poço com a versão cinematográfica de "O Código da Vinci" e alimentar polêmicas a
respeito da profundidade do
movimento das asas do Batman
em "O Cavaleiro das Trevas", o
filão faz uma nova investida
com "O Procurado".
A trama segue um ingênuo
contador, que depois de tanto
levar porrada da vida descobre
ser um grande herói, portador
dos talentos para salvar a própria pele e manter o mundo em
seus eixos. O responsável por
tentar manter nosso interesse
nesta história arquimanjada é o
russo Timur Bekmambetov,
que chega a Hollywood após o
megasucesso "Guardiões da
Noite" (convertido em franquia
com "Guardiões do Dia").
Na outra ponta, estão os quadrinhos de Mark Millar, "Wanted". Nas HQs, os investidores
enxergam o caminho dourado,
o modo pelo qual multiplicam
seus milhões só com a sedução
de adolescentes fãs de heróis.
Filme-game
O russo Bekmambetov já havia demonstrado em seus
"Guardiões" a adesão ao cinema espetacular, o fascínio pela
inflação visual, calcada na matriz hollywodiana que vigora
desde o advento dos filmes-game. Vem daí os melhores momentos de "O Procurado", com
a manipulação digital da imagem a serviço de um filme que
tem ritmo, intriga e estrutura
visual dos jogos que seguram a
atenção do público jovem.
Se este modo de atrair o espectador funciona, para que
submetê-lo a "conteúdos"?
Talvez a tentação seja a de prolongar o tempo da experiência
para além do estímulo. Ou talvez capturar o mais marmanjo
que, além de se extasiar, pensa
ter os neurônios estimulados
com a "reflexão" sobre predestinação e ordem metafísica.
É aí que "O Procurado" cai na
própria armadilha. Se fosse só
uma montanha-russa movida a
perseguições do bem pelo mal
não haveria do que se queixar.
Quando busca profundidade,
porém, é capaz de fazer até
Paulo Coelho cair no sono.
O PROCURADO
Produção: EUA/Alemanha, 2008
Direção: Timur Bekmambetov
Com: Morgan Freeman, Angelina
Jolie e James McAvoy
Onde: a partir de hoje nos cines
Anália Franco, Bristol e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 18 anos
Avaliação: ruim
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