São Paulo, sexta-feira, 22 de agosto de 2008

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Crítica/"O Procurado"

Ação cai em cilada ao buscar "reflexão"

Baseado em HQ e com ritmo que já prende a atenção do público-alvo, longa com Jolie e Freeman perde tempo com "conteúdos'

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Nunca se sabe bem quando começou, mas certamente foi a partir de "Matrix" que virou mania sobrecarregar "blockbusters" com conteúdos, digamos, "filosóficos". Agora parece que não bastam mais o ritmo incessante, as explosões milimetricamente calculadas e os efeitos visuais que alguém se disponha a deixar o conforto de casa e a pagar caro para assistir ao filme no cinema.
É preciso também dar ao público a impressão de que vai encontrar mais do que mero entretenimento. E este algo a mais costuma vir com o pomposo nome de "sabedoria".
Depois de atravessar camadas do tempo na trilogia "O Senhor dos Anéis", bater no fundo do poço com a versão cinematográfica de "O Código da Vinci" e alimentar polêmicas a respeito da profundidade do movimento das asas do Batman em "O Cavaleiro das Trevas", o filão faz uma nova investida com "O Procurado".
A trama segue um ingênuo contador, que depois de tanto levar porrada da vida descobre ser um grande herói, portador dos talentos para salvar a própria pele e manter o mundo em seus eixos. O responsável por tentar manter nosso interesse nesta história arquimanjada é o russo Timur Bekmambetov, que chega a Hollywood após o megasucesso "Guardiões da Noite" (convertido em franquia com "Guardiões do Dia").
Na outra ponta, estão os quadrinhos de Mark Millar, "Wanted". Nas HQs, os investidores enxergam o caminho dourado, o modo pelo qual multiplicam seus milhões só com a sedução de adolescentes fãs de heróis.

Filme-game
O russo Bekmambetov já havia demonstrado em seus "Guardiões" a adesão ao cinema espetacular, o fascínio pela inflação visual, calcada na matriz hollywodiana que vigora desde o advento dos filmes-game. Vem daí os melhores momentos de "O Procurado", com a manipulação digital da imagem a serviço de um filme que tem ritmo, intriga e estrutura visual dos jogos que seguram a atenção do público jovem.
Se este modo de atrair o espectador funciona, para que submetê-lo a "conteúdos"?
Talvez a tentação seja a de prolongar o tempo da experiência para além do estímulo. Ou talvez capturar o mais marmanjo que, além de se extasiar, pensa ter os neurônios estimulados com a "reflexão" sobre predestinação e ordem metafísica.
É aí que "O Procurado" cai na própria armadilha. Se fosse só uma montanha-russa movida a perseguições do bem pelo mal não haveria do que se queixar.
Quando busca profundidade, porém, é capaz de fazer até Paulo Coelho cair no sono.


O PROCURADO
Produção: EUA/Alemanha, 2008
Direção: Timur Bekmambetov
Com: Morgan Freeman, Angelina Jolie e James McAvoy
Onde: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Bristol e circuito
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 18 anos
Avaliação: ruim



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