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TEATRO
Companhias criam quatro palcos próximos à Unicamp
Vila de Campinas reúne núcleo alternativo
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma vila do distrito de Barão
Geraldo, em Campinas (99 km a
noroeste de São Paulo) se converte em pólo de teatro experimental,
com quatro espaços alternativos
mantidos por companhias independentes.
Experimental, alternativo e independente são designações que,
nos palcos, correspondem aos
grupos que investem na pesquisa
de linguagem cênica, em detrimento das montagens ditas comerciais. É o caso do Lume, núcleo teatral ligado à Unicamp. O
grupo surgiu há 15 anos, capitaneado pelo ator e diretor Luís
Otávio Burnier (1956-95), logo se
fixando em Vila Santa Izabel.
Primeiro, o Lume ocupou um
salão nos fundos da igreja matriz,
em troca de aula de canto para os
padres e da participação dos atores no bingo paroquial, cantando
os números. Depois, mudou-se
para uma chácara de 3.000 m2, de
propriedade da Unicamp.
É em torno da chácara, em um
raio de cerca de 500 metros, que
surgiram as sedes dos grupos Barracão Teatro e Boa Companhia,
além da Companhia Sarau, esta
com um palco dedicado a projetos de música popular, erudita e
instrumental (palco que já recebeu do maestro Nelson Ayres ao
compositor Maurício Pereira).
Juntos, oferecem 380 lugares.
Um quinto espaço, do grupo Seres de Luz, para 40 pessoas, deverá ser inaugurado em breve.
Os teatros foram surgindo, nos
últimos quatro anos, a partir de
um "puxadinho" no quintal dos
fundos (Sarau), do reaproveitamento de uma garagem (Boa
Companhia, que batizou o local
como Útero de Vênus) ou do barracão de zinco de uma oficina mecânica desativada (Barracão).
São casas rústicas, sem a estrutura convencional dos edifícios
teatrais. Não há lanchonete ou
guichê de bilheteria, por exemplo.
"Por conta disso a gente estabelece uma relação muito forte com
a comunidade", diz o diretor do
Lume, Carlos Simioni, 41.
"No início, durante as apresentações, os moradores espiavam de
longe, não passavam da cerca, curiosos para saber o que se passava
na chácara. Não tinham noção do
que era teatro, a maioria nunca foi
ao teatro. Hoje, os nossos vizinhos compõem boa parte da platéia", diz Simioni.
Não se trata de fenômeno local.
Além da população flutuante, formada basicamente por estudantes da Unicamp, há moradores
que vêm de outras cidades, como
Itu, Sorocaba, Valinhos, Vinhedo
e até de São Paulo.
"É um público exigente, que se
acostumou a ver espetáculos que
têm um entendimento racional,
sensível e estético do fazer teatral", diz o ator Moacir Ferraz, 34,
da Boa Companhia. A demanda
também inclui oficinas e work-
shops de artes cênicas.
No entanto, não se trata de um
movimento, diz Simioni. Cada
grupo desenvolve sua autonomia
criativa. A convergência se dá na
forma de parceria, culminando
na organização de uma mostra,
Tem Cena na Vila, cuja terceira
edição acontecerá em novembro.
Orçada em R$ 45 mil, cotizados
entre apoiadores, a mostra é gratuita e dura dois finais de semana.
São 17 apresentações com o repertório das companhias, que revezam em seus espaços, mais
quatro em ruas ou praças de Vila
Santa Izabel. "No fundo, a gente
quer apenas trabalhar, independente de bandeiras estéticas ou
políticas", afirma o ator Jesser de
Souza, 35, do Lume.
À própria custa limitada, as
companhias alcançam outros territórios: a Boa Companhia, por
exemplo, cumpre temporada em
São Paulo (leia ao lado) e o Lume
já levou seu teatro por várias ocasiões ao exterior.
(VALMIR SANTOS)
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