São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TEATRO
Companhias criam quatro palcos próximos à Unicamp
Vila de Campinas reúne núcleo alternativo

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma vila do distrito de Barão Geraldo, em Campinas (99 km a noroeste de São Paulo) se converte em pólo de teatro experimental, com quatro espaços alternativos mantidos por companhias independentes.
Experimental, alternativo e independente são designações que, nos palcos, correspondem aos grupos que investem na pesquisa de linguagem cênica, em detrimento das montagens ditas comerciais. É o caso do Lume, núcleo teatral ligado à Unicamp. O grupo surgiu há 15 anos, capitaneado pelo ator e diretor Luís Otávio Burnier (1956-95), logo se fixando em Vila Santa Izabel.
Primeiro, o Lume ocupou um salão nos fundos da igreja matriz, em troca de aula de canto para os padres e da participação dos atores no bingo paroquial, cantando os números. Depois, mudou-se para uma chácara de 3.000 m2, de propriedade da Unicamp.
É em torno da chácara, em um raio de cerca de 500 metros, que surgiram as sedes dos grupos Barracão Teatro e Boa Companhia, além da Companhia Sarau, esta com um palco dedicado a projetos de música popular, erudita e instrumental (palco que já recebeu do maestro Nelson Ayres ao compositor Maurício Pereira).
Juntos, oferecem 380 lugares. Um quinto espaço, do grupo Seres de Luz, para 40 pessoas, deverá ser inaugurado em breve.
Os teatros foram surgindo, nos últimos quatro anos, a partir de um "puxadinho" no quintal dos fundos (Sarau), do reaproveitamento de uma garagem (Boa Companhia, que batizou o local como Útero de Vênus) ou do barracão de zinco de uma oficina mecânica desativada (Barracão).
São casas rústicas, sem a estrutura convencional dos edifícios teatrais. Não há lanchonete ou guichê de bilheteria, por exemplo.
"Por conta disso a gente estabelece uma relação muito forte com a comunidade", diz o diretor do Lume, Carlos Simioni, 41.
"No início, durante as apresentações, os moradores espiavam de longe, não passavam da cerca, curiosos para saber o que se passava na chácara. Não tinham noção do que era teatro, a maioria nunca foi ao teatro. Hoje, os nossos vizinhos compõem boa parte da platéia", diz Simioni.
Não se trata de fenômeno local. Além da população flutuante, formada basicamente por estudantes da Unicamp, há moradores que vêm de outras cidades, como Itu, Sorocaba, Valinhos, Vinhedo e até de São Paulo.
"É um público exigente, que se acostumou a ver espetáculos que têm um entendimento racional, sensível e estético do fazer teatral", diz o ator Moacir Ferraz, 34, da Boa Companhia. A demanda também inclui oficinas e work- shops de artes cênicas.
No entanto, não se trata de um movimento, diz Simioni. Cada grupo desenvolve sua autonomia criativa. A convergência se dá na forma de parceria, culminando na organização de uma mostra, Tem Cena na Vila, cuja terceira edição acontecerá em novembro. Orçada em R$ 45 mil, cotizados entre apoiadores, a mostra é gratuita e dura dois finais de semana.
São 17 apresentações com o repertório das companhias, que revezam em seus espaços, mais quatro em ruas ou praças de Vila Santa Izabel. "No fundo, a gente quer apenas trabalhar, independente de bandeiras estéticas ou políticas", afirma o ator Jesser de Souza, 35, do Lume.
À própria custa limitada, as companhias alcançam outros territórios: a Boa Companhia, por exemplo, cumpre temporada em São Paulo (leia ao lado) e o Lume já levou seu teatro por várias ocasiões ao exterior.
(VALMIR SANTOS)


Texto Anterior: Brecht abre temporada de teatro do CCBB
Próximo Texto: Quem faz a cena em Vila Santa Izabel
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.