São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2000

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TEATRO
Diretor comenta pré-estréia de "O Traje" em festival em Porto Alegre
"Peter Brook é como um bom vinho", diz Zé Celso

VALMIR SANTOS
DO ENVIADO A PORTO ALEGRE

Quase nada, mas tudo. O despojamento cenográfico (uma cama, duas cadeiras) e o refinamento dos intérpretes são as principais marcas da primeira montagem de Peter Brook encenada no Brasil, "O Traje" ("Le Costume"), segundo encenadores ouvidos pela Folha na sessão de pré-estréia realizada na última terça-feira no 7º Porto Alegre em Cena.
"Peter Brook tem o sabor dos bons vinhos, quanto mais velho, melhor", afirma o diretor José Celso Martinez Corrêa, 63, do grupo Oficina Uzyna Uzona ("Boca de Ouro"), que estava na platéia da sessão fechada por um dos patrocinadores do evento, a OPP Petroquímica.
Houve uma segunda apresentação fechada, na quarta-feira, desta vez para a "classe artística" da capital gaúcha, de acordo com os organizadores. "O Traje" estreou ontem para o público e fica em cartaz até domingo, no teatro Renascença, sempre com os 300 ingressos, a R$ 5, esgotados.
Ao todo, serão realizadas seis sessões, pacote mínimo para turnês das peças de Brook, que não pôde vir porque está preparando seu primeiro "Hamlet", a tragédia de Shakespeare, para novembro.
Zé Celso, que já assistiu a outras montagens do encenador inglês, como "Marat/Sade", diz que Brook opta por uma narrativa de estilo popular em sua mais recente produção, de 99, como convém à tradição dos contadores de história da África do Sul do escritor Can Themba, de quem o conto "Le Costume" foi adaptado para o palco por Mothobi Mutloaste.
Segundo o diretor do Oficina, "há uma graça, uma doçura intensa" na maneira com que os quatro atores do Centre International de Création Théâtralne, o QG de Brook em Paris, transitam entre os respectivos papéis e a figura do narrador que se comunica com o público em cena aberta.
Trata-se da história do casal Matilda (Tanya Moodie) e Philemno (Cyril Guei), moradores em um bairro miserável de Johannesburgo. Amam-se muito, mas um dia ela o trai. Instala-se então uma rotina absurda na qual o terno do amante -que o sujeito esqueceu quando foi flagrado na cama e saiu em debandada- torna-se o segundo homem da casa, um visitante que merece ser tratado com deferência por Matilda.
Em seu "primeiro Brook", o dramaturgo e diretor Márcio Marciano, 38, da Companhia do Latão ("A Comédia do Trabalho"), afirma ter ficado impressionado com a "simplicidade dos atores em prender a atenção do público, recriando o espaço imaginário com economia de recursos".
O pesquisador teatral Fernando Peixoto, 63, ficou surpreso com "O Traje". "Esperava uma concepção de mais apelo visual e movimentação cênica, como em peças de Brook que já vi, mas agora o impacto acontece sobretudo por causa da simplicidade com que a linguagem cênica é tratada."


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