|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Diretor comenta pré-estréia de "O Traje" em festival em Porto Alegre
"Peter Brook é como um bom vinho", diz Zé Celso
VALMIR SANTOS
DO ENVIADO A PORTO ALEGRE
Quase nada, mas tudo. O despojamento cenográfico (uma cama,
duas cadeiras) e o refinamento
dos intérpretes são as principais
marcas da primeira montagem de
Peter Brook encenada no Brasil,
"O Traje" ("Le Costume"), segundo encenadores ouvidos pela Folha na sessão de pré-estréia realizada na última terça-feira no 7º
Porto Alegre em Cena.
"Peter Brook tem o sabor dos
bons vinhos, quanto mais velho,
melhor", afirma o diretor José
Celso Martinez Corrêa, 63, do
grupo Oficina Uzyna Uzona
("Boca de Ouro"), que estava na
platéia da sessão fechada por um
dos patrocinadores do evento, a
OPP Petroquímica.
Houve uma segunda apresentação fechada, na quarta-feira, desta
vez para a "classe artística" da capital gaúcha, de acordo com os
organizadores. "O Traje" estreou
ontem para o público e fica em
cartaz até domingo, no teatro Renascença, sempre com os 300 ingressos, a R$ 5, esgotados.
Ao todo, serão realizadas seis
sessões, pacote mínimo para turnês das peças de Brook, que não
pôde vir porque está preparando
seu primeiro "Hamlet", a tragédia
de Shakespeare, para novembro.
Zé Celso, que já assistiu a outras
montagens do encenador inglês,
como "Marat/Sade", diz que
Brook opta por uma narrativa de
estilo popular em sua mais recente produção, de 99, como convém
à tradição dos contadores de história da África do Sul do escritor
Can Themba, de quem o conto
"Le Costume" foi adaptado para o
palco por Mothobi Mutloaste.
Segundo o diretor do Oficina,
"há uma graça, uma doçura intensa" na maneira com que os
quatro atores do Centre International de Création Théâtralne, o
QG de Brook em Paris, transitam
entre os respectivos papéis e a figura do narrador que se comunica com o público em cena aberta.
Trata-se da história do casal
Matilda (Tanya Moodie) e Philemno (Cyril Guei), moradores
em um bairro miserável de Johannesburgo. Amam-se muito,
mas um dia ela o trai. Instala-se
então uma rotina absurda na qual
o terno do amante -que o sujeito
esqueceu quando foi flagrado na
cama e saiu em debandada- torna-se o segundo homem da casa,
um visitante que merece ser tratado com deferência por Matilda.
Em seu "primeiro Brook", o
dramaturgo e diretor Márcio
Marciano, 38, da Companhia do
Latão ("A Comédia do Trabalho"), afirma ter ficado impressionado com a "simplicidade dos
atores em prender a atenção do
público, recriando o espaço imaginário com economia de recursos".
O pesquisador teatral Fernando
Peixoto, 63, ficou surpreso com
"O Traje". "Esperava uma concepção de mais apelo visual e movimentação cênica, como em peças de Brook que já vi, mas agora
o impacto acontece sobretudo
por causa da simplicidade com
que a linguagem cênica é tratada."
Texto Anterior: Augusto Boal conversa com leitores dia 25 Próximo Texto: "Alicia en la Cama" centrifuga fantasias Índice
|