São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2000

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PRIMAVERA-VERÃO 2001
Em outra vertente, catalão e dupla de estilistas causam sensação usando humor e reciclagem
NY segue Europa e reabilita o clássico

ERIKA PALOMINO
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK

Nova York abre a temporada internacional de desfiles para a primavera-verão 2001 com uma injeção de sangue novo. E bom.
As apresentações começaram oficialmente na cidade no dia 14 e terminam hoje, na mais extensa edição do Seventh on Sixth, com quase cem desfiles e cerca de 130 estilistas.
Seventh on Sixth é quando as marcas da Sétima Avenida (a "fashion avenue") se transferem para a Sexta, nos jardins da biblioteca pública, o Bryant Park.
A moda americana está deitando e rolando com a orientação chique do prêt-à-porter nessa virada de milênio.
Reis da elegância formal, comerciais acima de tudo e, muitas vezes, caretas, os criadores "made in USA" se encontraram na esquina com o estilo lady ("ladylike") instalado na Europa há coisa de um ano. Agora estão se sentindo em casa.
Os clássicos agora não têm mais problema em ser clássicos, é só arrumar uma maneira (via tecido e proporções) de se manter atraentes para as novas gerações.
Veja o caso de Carolina Herrera (impecável nas pantalonas e blusas fluidas, foco nos ombros) e Oscar de la Renta (pense Versace), revisões do modelo "Valley of the Dolls" (o filme dos anos 60), com muita cor e roupa de boa qualidade.
Outro exemplo é o medalhão Ralph Lauren, que transforma o american way numa imagem de mulher muito sofisticada, vista no exclusivo desfile de anteontem no SoHo, que teve a nata da mídia de moda no mundo. Lauren evolui o casual style pelo qual ficou famoso para o que é explicitamente chique. American chic total.

Caminho inverso
Os modernistas têm o trabalho inverso: fazer "chic-ismo" com vanguarda (algo inédito durante os 90) e, ao mesmo tempo, preservar seu potencial de varejo e manter elevado o conteúdo criativo.
E tem gente conseguindo isso aqui. Atenção para os seguintes nomes: Miguel Adrover e Imitation of Christ.
O primeiro já é conhecido dos fashionistas desde a temporada passada.
Catalão saído (mesmo) do underground nova-iorquino, Adrover ficou famoso ao picotar o colchão do ator "transgender" Quentin Crisp (que diz ter achado na rua depois da morte do artista) e transformá-lo em roupa, a mesma coisa que fez com algumas peças da Burberry - o que quase lhe rendeu um processo.
Adrover andou passeando pela selva amazônica, em companhia de uns amigos antropólogos, e, para o verão, sugere peças militares e looks que ironizam o fashion em si, brincando -com seu humor peculiar- de masculino/feminino, conceitual e intelectualizado, mas usável.
Darling atual da imprensa de moda de Nova York, a Imitation of Christ (por aqui eles chamam IOC, mais fácil de escrever) tem como estilistas Tara Subkoff e Matt Damhave.
Eles começaram há menos de um ano e, nesse desfile de verão 2001, já tinham na primeira fila a diva do novo Cool NY, Chloë Sevigny, com sua habitual cara de tédio.
Mas não foi só isso, claro. A dupla IOC desfilou suas roupas recicladas (da Legião da Boa Vontade) numa funerária, numa apresentação que lembrava um velório, com as modelos passando à volta de um caixão. Lindas de morrer.


A jornalista Erika Palomino viaja a convite da Ralph Lauren e da Rosa Chá


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