|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"ATONEMENT"
Oitavo romance do escritor britânico é principal favorito na disputa pelo Booker Prize, no dia 17 de outubro
Ian McEwan se reconcilia com literatura
DA REDAÇÃO
Ian McEwan costuma dizer que
escreve a partir de fragmentos de
histórias que carrega em sua memória. Com "Atonement" -recém-lançado no Reino Unido e já
um dos favoritos para ganhar o
Booker Prize-, não foi diferente.
O escritor britânico conta que
concretizou o fragmento que trazia em sua cabeça no pesado volume de 372 páginas durante um
período de férias com os filhos.
Escolheu para o título a palavra
"atonement" (expiação) por significar, em sua opinião, "uma reconciliação consigo mesmo".
É inevitável pensarmos em uma
reconciliação dele com a literatura. "Atonement", seu oitavo romance, marca a superação de um
momento difícil de sua vida particular. Após ganhar o Booker Prize
em 98 por "Amsterdam", passou
por maus bocados em uma disputa pública com a ex-mulher.
Agora, McEwan pode levar
mais uma vez o Booker Prize. O
prêmio, no valor de 21 mil libras, é
o principal da língua inglesa e será
anunciado no dia 17 de outubro.
O escritor concorre com outro ex-vencedor, o australiano Peter Carey ("True History of the Kelly
Gang"), e mais quatro autores:
Andrew Miller ("Oxygen"), Rachel Seiffert ("The Dark Room"),
Ali Smith ("Hotel World") e David Mitchell ("number9dream").
Assim como nos anteriores,
"Atonement" é centrado num microcosmo com um questionamento da razão e dos relacionamentos amorosos. Em "Amor para Sempre" ("Enduring Love"),
por exemplo, razão e emoção travavam um embate angustiante ao
relatar a história de um homem
perseguido por alguém que sofria
de uma rara síndrome, a de Clérambault, que faz com que a pessoa alimente uma paixão obsessiva por alguém que não conhece.
O primeiro capítulo do livro é
estonteante. Quatro homens tentam salvar um balão desgovernado no qual está um garotinho.
Eles se agarram nas cordas que
pendem do cesto, mas logo vêem-se frente a um dilema: se continuarem segurando, conseguirão
salvar o menino, mas, se um deles
soltar, o balão voará desgovernado e todos morrerão. Com medo,
três deles largam a cesta e o balão
voa com o garoto e um dos homens pendurado. O herói acaba
sendo obrigado a soltar a cesta e
morre no chão. Os acovardados
passam a conviver com a culpa.
Resta esperar que as editoras
brasileiras não deixem "Atonement" sumir no horizonte como
um balão desgovernado.
(SYLVIA COLOMBO)
Texto Anterior: Videoarte: Gary Hill cancela palestra em São Paulo Próximo Texto: Análise - Boyd Tonkin: Escritor conjura o mal e a esperança em sua obra-prima Índice
|