São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2001

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"ATONEMENT"

Oitavo romance do escritor britânico é principal favorito na disputa pelo Booker Prize, no dia 17 de outubro

Ian McEwan se reconcilia com literatura

DA REDAÇÃO

Ian McEwan costuma dizer que escreve a partir de fragmentos de histórias que carrega em sua memória. Com "Atonement" -recém-lançado no Reino Unido e já um dos favoritos para ganhar o Booker Prize-, não foi diferente.
O escritor britânico conta que concretizou o fragmento que trazia em sua cabeça no pesado volume de 372 páginas durante um período de férias com os filhos. Escolheu para o título a palavra "atonement" (expiação) por significar, em sua opinião, "uma reconciliação consigo mesmo".
É inevitável pensarmos em uma reconciliação dele com a literatura. "Atonement", seu oitavo romance, marca a superação de um momento difícil de sua vida particular. Após ganhar o Booker Prize em 98 por "Amsterdam", passou por maus bocados em uma disputa pública com a ex-mulher.
Agora, McEwan pode levar mais uma vez o Booker Prize. O prêmio, no valor de 21 mil libras, é o principal da língua inglesa e será anunciado no dia 17 de outubro. O escritor concorre com outro ex-vencedor, o australiano Peter Carey ("True History of the Kelly Gang"), e mais quatro autores: Andrew Miller ("Oxygen"), Rachel Seiffert ("The Dark Room"), Ali Smith ("Hotel World") e David Mitchell ("number9dream").
Assim como nos anteriores, "Atonement" é centrado num microcosmo com um questionamento da razão e dos relacionamentos amorosos. Em "Amor para Sempre" ("Enduring Love"), por exemplo, razão e emoção travavam um embate angustiante ao relatar a história de um homem perseguido por alguém que sofria de uma rara síndrome, a de Clérambault, que faz com que a pessoa alimente uma paixão obsessiva por alguém que não conhece.
O primeiro capítulo do livro é estonteante. Quatro homens tentam salvar um balão desgovernado no qual está um garotinho. Eles se agarram nas cordas que pendem do cesto, mas logo vêem-se frente a um dilema: se continuarem segurando, conseguirão salvar o menino, mas, se um deles soltar, o balão voará desgovernado e todos morrerão. Com medo, três deles largam a cesta e o balão voa com o garoto e um dos homens pendurado. O herói acaba sendo obrigado a soltar a cesta e morre no chão. Os acovardados passam a conviver com a culpa.
Resta esperar que as editoras brasileiras não deixem "Atonement" sumir no horizonte como um balão desgovernado. (SYLVIA COLOMBO)


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