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Romance vê país entre riso e agonia
ROGÉRIO EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL
"O Riso da Agonia", de Plínio
Cabral, é uma narrativa das entrelinhas históricas feita em entrelinhas literárias. O que se vislumbra por sob o texto deste romance
escrito por um morto é o movimento subterrâneo da tentativa
de estruturação socialista no país.
Para traduzir os murmúrios
dessa história, o autor criou um
protagonista especialista em "ruidologia", ciência capaz de catalogar os ruídos do entorno.
"A ruidologia pode se transformar em ciência ou, quem sabe,
em religião. As religiões, na hora
do desespero, proliferam. Além
disso, o silêncio é perigoso. O torturador está sempre gritando: "Fala!". Um ruidólogo ainda pode distinguir o que resta de vida neste
planeta, separando sons", diz Cabral, 77, há 30 em São Paulo.
Esse tom irônico domina o romance desde a primeira linha:
"Eu morri no dia 23 de setembro
de 1999". "A fala do morto é definitiva. Hoje vivemos na era dos
desmentidos. O morto tem mais
credibilidade", afirma o escritor.
Ao criar um "defunto autor" ou
"autor defunto", Cabral envereda
por uma forma de expressão da
sociedade nacional já determinada no século 19 na literatura de
Machado de Assis ("Memórias
Póstumas de Brás Cubas"). A liberdade advinda da morte permite a tradução dos limites sobre o
qual o social se estrutura. Neste
romance, entre o riso e a agonia.
"Somos um povo que alterna riso e agonia a cada quatro anos,
basta olhar o processo eleitoral:
vota-se numa esperança que logo
se transforma em desespero... Rimos para não chorar e isso expressa o caráter de um povo que
se recusa a perder a esperança."
Contando sua vida quando esteve preso a uma cama à beira da
morte, o ruidólogo do livro percebe os movimentos em sua casa
enquanto relata os anos em que
fazia parte dos movimentos sociais nascentes. Garoto sem muito
conhecimento dos fatos, aos poucos o narrador vai sendo tragado
pela clandestinidade.
"Os movimentos sociais iniciam-se e, depois, adquirem vida
própria. Terminam conduzindo
seus idealizadores. Os movimentos políticos no Brasil são incompletos. Nunca se concluem."
Advogado especialista em direito autoral, Cabral possui alguns
títulos técnicos no mercado. "Às
vezes saio da realidade jurídica
para o sonho do romance", diz.
Em "O Riso e a Agonia", "o tema partiu da observação do choque gerado em torno das pequenas coisas. Há conflitos, às vezes
mortais, causados por fato pequeno, minúsculo, insignificante. O
apego a pequenas coisas, a costumes arraigados que traduzem o
exercício do poder mostra que o
ser humano vive, ainda, uma etapa primitiva do ter e do poder. E o
poder, no caso, expressa-se por
ele mesmo, pela afirmação do
mando, seja num império, seja
num quarto e sala".
O RISO DA AGONIA. De: Plínio Cabral.
Editora: Escrituras. Quanto: R$ 20 (144
págs.).
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