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Crítica/"O Diabo Veste Prada"
"Diabo" abranda cinismo sobre moda
ALCINO LEITE NETO
EDITOR DE MODA
Muitos filmes já foram
feitos abordando o
universo da moda ou
das modelos. Alguns têm status
de clássicos do cinema, como
"Blow Up - Depois Daquele
Beijo", de Michelangelo Antonioni, e "Quem É Você, Polly
Magoo", de William Klein.
Coincidentemente, os dois
são de 1966 e pioneiros que vislumbraram como a cultura ocidental imergia cada vez mais no
espetáculo, no narcisismo, no
voyeurismo e na exploração
midiática da mulher.
Quarenta anos depois, 2006
será conhecido como o ano em
que a moda voltou com força ao
cinema. Ela comparece em
"Zuzu Angel", de Sérgio Rezende, é a chave para a compreensão de "Maria Antonieta", de
Sofia Coppola, e o tema da comédia "O Diabo Veste Prada",
dirigido por David Frankel. Todos eles explicitam como a moda pode ser um recurso "político" das mulheres para se imporem em um ambiente antagônico a elas.
"O Diabo" é a história de uma
jovem jornalista, Andy Sachs
(Anne Hathaway), que sonha
em trabalhar em revistas intelectualizadas. Como não consegue, ela se arruma na poderosa
revista fashion "Runaway", dirigida pela tirânica Miranda
Priestly (Meryl Streep).
Mulher forte e determinada,
Miranda coloca todos aos seus
pés para servi-la como escravos
voluntários. Andy sofre o pão
que o Diabo amassou, mas cai
na armadilha do glamour.
O filme foi inspirado no best-seller homônimo de Lauren
Weisberger, de teor autobiográfico, pois a própria autora
trabalhou na "Vogue" americana como secretária de Anna
Wintour, que teria inspirado o
personagem de Miranda.
Escrito numa prosa convencional, o livro, apesar disso, faz
um retrato irônico e impiedoso
do mundo fashion, expondo
muitas de suas ridicularias.
O filme, embora divertido, é
bem menos cínico. E chega a
ser curiosamente edificante.
Com Miranda, Andy descobre
como a ambição se impõe à vida, o trabalho se impõe ao desejo e como ela pode se sobressair
no mundo pós-feminista.
Miranda, de mulher-diabo,
transforma-se no decorrer da
trama em um modelo de perseverança e de resistência. E a
moda, para o filme, resulta menos num alvo de ataques e mais
num ambiente narrativo propício para ensinar às garotas lições de maquiavelismo.
Frankel é um diretor apenas
mediano, além de muito previsível do ponto de vista moral e
cinematográfico -o que fica
particularmente claro a partir
da pífia seqüência de Paris até o
final. Seria preciso um realizador mais perverso para extrair
do livro a carga de rebeldia que
ele, bem ou mal, contém.
Não fosse pela presença de
Meryl Streep, "O Diabo" tombaria no marasmo. Com as suas
sutilezas de uma lady, as severidades de uma puritana e os espasmos de uma sádica, Streep
reúne as contradições do feminino que o filme precisa -e outras mais, que ela acrescenta,
diabolicamente talentosa.
O DIABO VESTE PRADA
Direção: David Frankel
Produção: EUA, 2006
Com: Anne Hathaway, Meryl Streep
Quando: em cartaz no Bristol, Iguatemi Cinemark e circuito
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