São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2006

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Crítica

Lubitsch desata feminilidade de Greta Garbo

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

O crítico Rubem Biáfora gostava de comparar o rosto de Greta Garbo a uma sinfonia de Mozart. Pode até ser. Mas confesso que nunca consegui nutrir por essa estrela a admiração que despertou entre seus contemporâneos.
Ao contrário: ela me pareceu sempre muito sisuda e dotada de um ar olímpico que, por sinal, Roland Barthes soube analisar como ninguém. Era uma mulher das essências.
Uma única exceção: "Ninotchka" (Turner Classic Movies, 1h35), onde Ernst Lubitsch sabe apanhá-la, de início, com o ar grave que a consagrou -acrescido do fato de ser uma comunista inflexível. Depois, porém, seduzida por Paris e pelo personagem de Melvyn Douglas, essa carapaça de seriedade se rompe.
Só então vemos Garbo transformar-se numa mulher. Outro diretor talvez não conseguisse operar tamanha mudança. Lubitsch conseguiu. Não era um homem respeitoso. Mas era um homem profundo e grande diretor. Sabia que o bom cinema desdenha da respeitabilidade.


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