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Crítica
Lubitsch desata feminilidade de Greta Garbo
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O crítico Rubem Biáfora gostava de comparar o rosto de
Greta Garbo a uma sinfonia de
Mozart. Pode até ser. Mas confesso que nunca consegui nutrir por essa estrela a admiração que despertou entre seus
contemporâneos.
Ao contrário: ela me pareceu
sempre muito sisuda e dotada
de um ar olímpico que, por sinal, Roland Barthes soube analisar como ninguém. Era uma
mulher das essências.
Uma única exceção: "Ninotchka" (Turner Classic Movies, 1h35), onde Ernst Lubitsch sabe apanhá-la, de início,
com o ar grave que a consagrou
-acrescido do fato de ser uma
comunista inflexível. Depois,
porém, seduzida por Paris e pelo personagem de Melvyn Douglas, essa carapaça de seriedade
se rompe.
Só então vemos Garbo transformar-se numa mulher. Outro
diretor talvez não conseguisse
operar tamanha mudança. Lubitsch conseguiu. Não era um
homem respeitoso. Mas era um
homem profundo e grande diretor. Sabia que o bom cinema
desdenha da respeitabilidade.
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