São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2006

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Última Moda

Alcino Leite Neto (em Nova York) @ - ultimamoda@folhasp.com.br

Primeira World Fashion Week será em dezembro

Megaevento pretende reunir estilistas de 38 países em Los Angeles para desfiles, premiação e festa beneficente

O calendário de moda internacional ganhará um encerramento especial a partir deste ano. A primeira edição da World Fashion Week deve acontecer na primeira semana de dezembro, em Los Angeles (EUA), e promete reunir os melhores estilistas de 38 países, incluindo o Brasil, para uma série de desfiles, uma feira de negócios e uma premiação.
"A idéia é que esse encontro seja uma grande festa da moda, reunindo e premiando os melhores designers e as melhores coleções do ano, tudo aliado a uma grande campanha beneficente", diz Paco de Jaimes, diretor geral do evento, em entrevista à Folha.
De Jaimes, que trabalha há 15 anos organizando eventos e desfiles para grifes como Chanel, Betsey Johnson, Lacoste e Hugo Boss, adiantou que o sexto dia do evento será dedicado a uma espécie de Teleton, nos mesmos moldes do que acontece anualmente no Brasil.
As doações serão revertidas para obras de caridade selecionadas pelos ministérios da Cultura e do Turismo dos países participantes. "Teremos uma série de shows e celebridades se revezando na apresentação. Parte dessas ações será televisionada, e o público de todas as nações envolvidas poderá fazer doações por telefone", afirma.
Os planos dos organizadores são ainda mais ambiciosos. Está prevista para o último dia da World Fashion Week uma premiação dos melhores do ano na moda, incluindo estilistas, coleções, desfiles e modelos, entre outras categorias.
Já a abertura será feita com um grande baile de gala, previsto para o dia 7 de dezembro no Kodak Theatre, o mesmo local onde acontece a cerimônia de entrega do Oscar.
"Durante outubro e novembro divulgaremos o line-up de desfiles e também alguns dos convidados especiais do evento. Será uma lista top, com nomes de destaque na moda, celebridades e representantes dos governos envolvidos", diz De Jaimes, que não quis revelar o nome dos convidados.
Além de arrecadar fundos para entidades beneficentes, a World Fashion Week também abrirá espaço para uma feira de negócios. Cada país poderá levar até dez empresas de moda ou da área têxtil, e os organizadores facilitarão as vendas convidando os compradores. Tanto a feira quanto os desfiles devem acontecer no Centro de Convenções de Los Angeles.
As coleções apresentadas serão um mix das duas temporadas do ano (primavera/verão e outono/inverno). "Além das peças que já terão sido apresentadas nas semanas de moda do mundo, vamos pedir que alguns estilistas produzam um ou mais looks inéditos para o evento", conta De Jaimes. Os criadores serão selecionados levando em conta a importância de seu trabalho no país de origem.
Segundo o diretor da World Fashion Week, apenas a primeira edição do evento acontecerá nos Estados Unidos. A partir de 2007, a World Fashion Week será realizada a cada ano em um dos países participantes, entre eles, França, Itália, Inglaterra, Japão, China, Bélgica, Dinamarca, Espanha e Alemanha, além do Brasil.

Nova York quer definir moda global

Coleções da Olympus Fashion Week buscam um estilo internacional

A jornalista Alicia Drake conta no livro "The Beautiful Fall" que, nos anos 60, os americanos costumavam comprar dos estilistas franceses a autorização para copiarem os modelos das roupas nos Estados Unidos.
Até hoje, a moda americana ainda se ressente desse antigo negócio: ela parece ter grande dificuldade para definir uma imagem própria, como se viu em boa parte dos desfiles da temporada primavera-verão 2007 da Olympus Fashion Week, em Nova York, que terminou na última sexta-feira.
Nas passarelas, é como se muita coisa fosse um arremedo do que se faz na Europa, sobretudo em Paris. As adaptações chegam a ser sofisticadas, em termos de material e de corte, mas carecem de personalidade. Poucos designers conseguem definir um estilo singular, que leve em conta um certo modo de ser americano -como Ralph Lauren-, ou ao menos nova-iorquino -como Donna Karan.
Mas talvez esta exigência do "caráter nacional" da moda americana não faça mais sentido, se considerados o papel de liderança mundial dos EUA e a forte internacionalização por que passa a Olympus Fashion Week.

Metrópoles mundiais
Além de agremiar grifes de vários países, inclusive do Brasil (Alexandre Herchcovitch, Carlos Miele, Rosa Chá e Cia. Marítima), o evento espelha cada vez mais o descompromisso dos novos criadores locais com a definição de uma moda americana. Os principais dentre eles, como Marc Jacobs e Zac Posen, estão mais interessados em firmar um estilo global do que em definir um modelo nacional.
A coleção de Jacobs, por exemplo, busca a universalização numa simbiose entre elementos do streetwear das metrópoles mundiais com a substância moderna da moda inventada por estilistas japoneses e europeus.
Zac Posen, por sua vez, está preocupado em definir uma nova elegância "jet-set" para garotas contemporâneas, muito ricas e loucas por um pouco mais de humor e malícia na tradição do luxo.
Coisa parecida ocorreu com a grife Rodarte, das irmãs Kate e Laura Mulleavy, que se aproximou do universo da alta-costura com um irônico espírito vintage. O resultado foi uma coleção muito atual, que chamou a atenção para esta nova grife californiana.
A ótima coleção da Calvin Klein -uma das mais tradicionais marcas dos EUA- também mostra este desapego com o fundamento nacional. Embora preserve algo da imagem de síntese e clareza que definem historicamente a grife, a coleção caminha para um outro lugar: busca um estilo minimalista super-sofisticado, nesta temporada muito mais inspirado no designer austríaco Helmut Lang e em outras fontes européias do que na herança da Calvin Klein.
"Quisemos realizar nesta coleção algo que representasse mais o estilo de vida contemporâneo", disse o brasileiro Francisco Costa, hoje no comando criativo da grife. Você quer dizer um estilo de vida americano?, perguntou a Folha. "Não, um estilo global! A urbanização está cada vez mais acelerada e as metrópoles cada vez mais conectadas entre si", afirmou o estilista. Neste ano, Costa ganhou o prêmio de melhor designer dos EUA, entregue pelo Council of Fashion Designers of America.

Pode amarrotar
A busca de sintonia com a atualidade dinâmica da globalização se refletiu não apenas no desenho das peças -com suas silhuetas muito leves e elegantemente informais-, como na escolha dos tecidos usados pela Calvin Klein.
Além de românticas organzas, Costa utilizou o nylon e até a borracha em looks que se inspiram muitas vezes na roupa esportiva, como os casaquinhos com minúsculas perfurações sucessivas e as blusas monocromáticas com números de futebol em relevo.
"Alguns tecidos são muito frágeis, como a organza. Se você faz algo que tem uma forma muito precisa, a pessoa não vai poder levar a roupa numa viagem. Este efeito mais orgânico dá mais facilidade para a mulher. A roupa pode amarrotar na bagagem que está tudo bem", disse Costa, preocupado com as viagens de suas clientes. Os brancos e pretos dominaram a passarela -intercalados por looks inesperados em amarelo-ovo. Pretos e brancos, aliás, reinaram em Nova York.
Apesar do requinte arquitetônico das roupas, Costa definiu a sua coleção como "esportivo light", para acentuar seu lado contemporâneo e antenado com as atuais demandas femininas -muita moda, mas também muita praticidade.

WARHOL
Andy Warhol volta a seduzir Nova York. Uma exposição com 19 retratos que ele fez de Mao Tse-tung, em 1972, está acontecendo na charmosa galeria L&M Arts. E "Andy Warhol: A Documentary" tem lotado uma das salas do Film Forum, no Soho. O filme tem quatro horas de duração, mas o público resiste bravamente, à medida que Warhol vai se tornando cada vez mais brilhante, excêntrico e fundamental para a arte do século 20.

DOIS GÊNIOS
Acaba de sair nos EUA "The Beautiful Fall" (A Bela Queda, ed. Little Brown and Company), da jornalista Alicia Drake, um emocionante livro de história da moda -mas também um catálogo de dramas e anedotas intermináveis sobre Yves Saint Laurent e Karl Lagerfeld. Os dois eram amigos muito próximos na juventude. Com o tempo, foram se distanciando, até deixarem de se relacionar. Através das trajetórias dos dois grandes estilistas, a autora traça um painel do período mais glorioso e turbulento da moda parisiense -entre os anos 50 e os 70.

A CIÊNCIA DO SONO
O francês Michel Gondry, diretor do cult "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembrança", aproveitou o lançamento de seu novo filme em Nova York para fazer uma exposição com o mesmo nome na galeria Deitch Projects 76: "A Ciência do Sonho". A exposição reúne uma série de objetos e instalações neo-surrealistas do diretor e de seus convidados, como Lauri Faggioni. O filme é uma história de amor absurda, protagonizada por Gael Garcia Bernal e Charlotte Gainsbourg.


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