São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2008

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Crítica/CD/"Still Unforgettable"

Cantora Natalie Cole retoma repertório "inesquecível"

Álbum traz clássicos norte-americanos e dueto póstumo com o pai, Nat King Cole

CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Pressões não faltaram, mas ela resistiu por bastante tempo. A cantora norte-americana Natalie Cole esperou 17 anos para lançar outro projeto na linha de "Unforgettable...With Love", seu álbum que vendeu 14 milhões de cópias, no início dos anos 90. A chave desse sucesso vinha na faixa-título: graças a um truque de estúdio, Natalie gravou em duo com a voz do cantor Nat King Cole (1919-1965), seu pai.
"Essa é uma daquelas coisas que podem acontecer apenas uma vez na vida de um artista. Por isso demorei tanto a decidir se iria fazê-lo de novo. "Unforgettable" foi um fenômeno", disse a cantora à Folha, em entrevista no começo deste mês. Natalie, que acaba de lançar o CD "Still Unforgettable" (Rhino/ Warner), foi internada no último dia 12 num hospital de Nova York.
De acordo com sua assessora, a cantora está se recuperando dos efeitos colaterais da medicação que toma contra a hepatite C e também do puxado esquema de promoção do novo álbum. A notícia foi divulgada na sexta-feira.

Clássicos americanos
Em "Still Unforgettable", Natalie não interpreta apenas sucessos do pai. Também canta clássicos da canção norte-americana, como "The Best Is Yet to Come", "But Beautiful" e "Something's Gotta Give", que ficaram associados às vozes de outros grandes intérpretes do gênero, como Frank Sinatra, Peggy Lee e Sammy Davis Jr.
Claro que ela também aparece em outro duo "fabricado" com o pai. Desta vez a escolhida foi "Walkin" My Baby Back Home" (de Roy Turk e Fred Ahlert), uma canção mais leve e descontraída do que "Unforgettable". "Eu não queria outra balada lenta. Decidi fazer uma canção mais divertida, com a qual as pessoas estivessem familiarizadas", ela explicou.
Estreando como produtora, Natalie selecionou o repertório do álbum com sua diretora musical, a pianista Gail Deadrick. "Certas canções, especialmente as mais animadas, pedem uma big band, uma abordagem mais jazzística", justificou a cantora, que conta no álbum com saborosos arranjos orquestrais de especialistas do gênero, como John Clayton e Patrick Williams.
"Já não existem mais tantos artistas cantando boas canções, como houve no passado", avaliou Natalie, observando que a cena musical mudou bastante desde o lançamento de seu primeiro "Unforgettable". "Você precisar gostar desse tipo de música para interpretá-la bem. O próprio público só se lembra de como esse tipo de música é tão boa, quando ouve uma Diana Krall ou um Michael Bublé". Quer dizer que Natalie Cole pensa como Chico Buarque, que já disse que o rap e o hip hop podem acabar matando a canção? "Concordo com ele. O hip hop é hegemônico no mundo, e não por ser a melhor música que se faz hoje. Se há uns 5.000 artistas jovens fazendo hip hop atualmente, só uns 200 artistas se dedicam ao jazz. Essa proporção é muito desigual. Gosto de hip hop, mas acho que deve haver espaço para todos os tipos de música", observou.
A filha de Nat King Cole (o primeiro negro que apresentou um programa em horário nobre na TV norte-americana) não escondeu que vai votar em Barack Obama para presidente dos EUA, mas demonstrou apreensão frente ao cenário político que seu candidato terá de enfrentar.
"Este é um momento único. Acho que o mundo espera que Barack Obama se torne o próximo presidente dos EUA, mas acho que vai ser uma disputa bem difícil. Não há garantia alguma de que ele será o vencedor. Acho que as pessoas vêem em Obama potencial para fazer os EUA voltarem aos trilhos, para que o país possa corrigir suas relações com o mundo", concluiu a cantora.


STILL UNFORGETTABLE
Artista: Natalie Cole
Gravadora: DMI/Warner
Quanto: R$ 30, em média
Avaliação: bom




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