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ARTES PLÁSTICAS
Artista plástico mineiro, morto em 1996, ganha mostra de seus mórbidos "assemblages" na Nova Galeria
Farnese de Andrade ressuscita hoje em SP
CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local
Barroco, dadaísta, surrealista,
metafísico. Farnese de Andrade
(1926-1996) foi de tudo um pouco.
E, aos poucos, vem correndo o risco de vir a não ser nada.
A primeira afirmação é comprovável com a simples observação da
rica produção do artista plástico
mineiro, que ressuscita novamente hoje, em mostra na Nova Galeria, a partir das 20h.
A segunda afirmação é o que ainda tenta parte da história da arte
brasileira. Farnese de Andrade não
foi incluído, por exemplo, entre as
centenas de artistas que compuseram a Bienal Brasil Século 20, em
1994. Havia participado de quatro
edições anteriores da Bienal.
Também está fora da 24ª edição
do evento, este ano, que tem como
conceito norteador a antropofagia,
elemento formador da identidade
cultural e artística brasileira. Logo
o artista mineiro, que construiu
seus objetos, caixas e oratórios a
partir da canibalização da tradição
religiosa do barroco mineiro, da
cultura brasileira dos ex-votos e de
linguagens artísticas internacionais (como a pintura metafísica e o
dadaísmo, ambos com salas especiais no evento).
Que não caiba tudo em uma Bienal, como já ressaltou o curador
Paulo Herkenhoff, isso é certo,
mas o conceito antropofágico tem
sido encarado de uma forma um
tanto quanto elástica, o que dificulta ainda mais a compreensão do
porquê da exclusão do artista, que
já teve obra comprada até pelo
MoMA de Nova York.
Mas, obcecado pela morte como
era, mesmo depois dessas tentativas de morte, Farnese está de volta
e em forma, como provam as peças
em exposição, nem todas à venda.
São caixas, gamelas, armários e
oratórios, construídos a partir da
reunião de objetos díspares, como
imagens religiosas, cabeças de bonecas, ovos de madeira de costura,
bases de castiçais, balas de fuzil,
fotografias, ossos de peixe e toda
sorte de resíduo da civilização.
São estranhos "assemblages"
com velhos objetos comprados ou
recolhidos pela rua ou na praia.
São combinações que trafegam
entre o lírico e o mórbido, entre o
desejo de morte e uma obstinada
tentativa de criar novos seres ou
preservar a vida (uma possível hecatombe nuclear era uma das
preocupações do artista, que a demonstrou em obras como "Hiroshima", presente na mostra).
Aprisionadas em caixas, redomas, vidros hospitalares ou resina,
seus seres fragmentados são ainda
a representação daquele que é, segundo ele, o ideal da condição humana. "O estado ideal é a solidão",
disse em vídeo que será exibido
hoje no vernissage.
Suas obras são, em verdade, retratos de sua própria condição humana: complexa, obscura, angustiada e depressiva (morreu intoxicado pelo uso de antidepressivos,
como lítio).
Farnese trabalha com imagens
religiosas, mas sempre de maneira
sacrílega, colocadas de cabeça para
baixo ou aprisionadas em resina.
Homossexual e sem esperanças
em relação ao mundo, não via sentido na idéia de ter filhos. Suas bonecas de plástico aparecem sempre fragmentadas ou calcinadas
com velas.
Os órgãos sexuais -masculinos
ou femininos- são outra constante em sua obra, mas geralmente
desprovidos de seus papéis reprodutor e erótico e aparecem presos
em armários ou isolados sobre
mesas, como que santos em altares
para devoção.
²
Mostra: Farnese de Andrade (desenhos e
"assemblages")
Onde: Nova Galeria (r. Estados Unidos,
1.581, tel. 011/3064-9496)
Vernissage: hoje, às 20h
Quando: de segunda a sexta, das 11h às
19h; sábado, das 11h às 15h
Quanto: de US$ 3.000 a US$ 10.000
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