São Paulo, Sexta-feira, 22 de Outubro de 1999
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PATRIMÔNIO HISTÓRICO
Espaço localizado em Salvador, Bahia, passa por reforma orçada em R$ 10 milhões
Santa Casa torna-se espaço artístico

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
enviado especial a Salvador


No ano do quinto centenário da fundação da primeira Santa Casa de Misericórdia do mundo (em Portugal) e do seu 450º aniversário, o edifício da Santa Casa de Salvador começa a passar por um completo processo de renovação.
Graças a ele, importantes obras de arte, documentos, móveis, paramentos religiosos e prédios históricos serão restaurados e colocados à disposição do público.
O centro histórico da capital da Bahia, que vem sendo revitalizado com êxito há anos, vai ganhar com o projeto um portal de entrada compatível com as melhorias realizadas no seu interior.
O local onde o primeiro prédio da Santa Casa começou a ser construído em 1549 marcava, segundo algumas versões, o início da cidade de Salvador na época.
O Portal da Misericórdia, como é chamado o projeto, é uma iniciativa da Santa Casa da Misericórdia da Bahia viabilizada graças a um sistema de parcerias com empresas privadas.
O custo está calculado em R$ 10 milhões. A Odebrecht S/A deu a partida, tendo colocado R$ 500 mil e coordenado o trabalho de captação de mais recursos.
Petrobrás, Copene, Aliança da Bahia, Triken, Eletrobrás e Fundação Calouste Gulbenkian são outras entidades já comprometidas com o Portal da Misericórdia.
Outras quatro empresas privadas e dois bancos estatais estão com sua participação no projeto praticamente acertada.
Como o processo de captação começou em fevereiro deste ano, logo após a desvalorização do real, que criou ambiente de grande incerteza empresarial, os resultados, na opinião de Márcio Polidoro, diretor da Odebrecht, são considerados excelentes.
O gestor do projeto será o Instituto de Hospitalidade, uma entidade de direito privado, sem fins lucrativos, criada pela Odebrecht para "promover a educação e a cultura da hospitalidade para aprimorar do setor de turismo".
O Instituto de Hospitalidade vai se instalar nos andares superiores dos prédios pertencentes à Santa Casa e que ficam em frente a ela, no outro lado da rua da Misericórdia. A parte térrea desses edifícios, que serão todos restaurados, será ocupada por bares, restaurantes e casas de cultura.
Na própria Santa Casa, haverá um museu, com exposição permanente do acervo, um arquivo, à disposição de pesquisadores e do público, e a igreja, aberta a todos os que a quiserem visitar.
A Igreja da Misericórdia, atualmente deserta durante a maior parte dos dias, é decorada com azulejos da década de 1720, feitos em Lisboa por Antônio de Abreu.
Entre as cenas religiosas retratadas nos azulejos está o que é considerado o único registro iconográfico existente na Bahia da Procissão dos Fogaréus, importante cerimônia religiosa nos séculos 18 e 19, que se realizava na quinta-feira da Semana Santa.
A procissão era uma dramatização da procura de Jesus pelos judeus que o prenderam no Jardim das Oliveiras. A participação das pessoas era tão intensa que o governo da Bahia a proibiu em 1862 para evitar desordens.
Nas paredes laterais da capela-mor da igreja, há seis painéis de autoria de José Joaquim da Rocha, considerado o principal expoente da Escola Baiana de Pintura, do final do século 18.
Quase todo o acervo artístico da Santa Casa ficou parcialmente escondido durante décadas. Mas, nos últimos anos, os administradores da instituição passaram a permitir que fossem vistos.
Dois tocheiros de 1,85m, de madeira dourada, do século 18, por exemplo, foram levados para uma exposição sobre o barroco brasileiro no Petit Palais, em Paris. A estátua de um vassalo foi para outra mostra, na Fiesp, em São Paulo. A ordem na Santa Casa baiana agora é abrir-se.
A determinação também vale para os documentos que desde o século 17 foram ali acumulados.
São registros de escravos, certidões de nascimento e de óbito, descrições e estatísticas sobre enfermidades, contas bancárias.
Tudo vai ser catalogado e digitalizado. A Participação da Fundação Calouste Gulbenkian no projeto (cerca de R$ 850 mil) tem como objetivo específico a organização dos 500 mil documentos.
O objetivo é que a parte principal do projeto (o Boulevar da Misericórdia e o Museu da Santa Casa) esteja pronta para inauguração até o final do ano que vem.
O Museu da Santa Casa será de especial interesse para a apreciação da história da Bahia.
Uma escrivaninha usada por Rui Barbosa, cadeira e mesa feitas especialmente para a visita de dom Pedro 2º ao local, retratos de todos os provedores da Santa Casa são algumas das atrações.
Um dos princípios fundamentais do projeto Portal da Misericórdia é que ele seja auto-sustentável. O aluguel dos espaços a serem utilizados por comerciantes, a cobrança de ingressos para atividades e visitas, pagamento pelo uso de auditório e salões de eventos serão algumas das fontes de renda com que o Portal contará.


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