São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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Crítica/"Jovens, Loucos e Rebeldes"

Comédia cult vai além da superfície teen

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A vida é um amontoado de digressões nos melhores filmes de Richard Linklater. Conversas que não se concluem -e dão margem para dúvidas existenciais- e papos de boteco fazem parte do cenário de cults como "Waking Life" e "Antes do Amanhecer".
Não há, no entanto, momento mais propício a filosofias de ocasião -que parecem definitivas- que a adolescência. Em "Jovens, Loucos e Rebeldes" (1993), lançado agora em DVD, estamos em um período de transições, em que a incerteza em relação ao futuro gera expectativas nebulosas.
É o último dia de aula em uma escola no Texas, em 1976, e o cenário que se apresenta é típico de qualquer filme tolo adolescente que povoava as telas nos anos 80. Veteranos perseguem impiedosamente os calouros durante o dia, enquanto todos esperam ansiosos pela chegada da noite e qualquer possibilidade de diversão. Só faltam machões sedentos por sexo e garotas com seios à mostra. A transgressão de Linklater caminha por outras vias.
O tempo, ou melhor, as ilusões e distorções causadas pela nostalgia e pelo esquecimento são o foco desta comédia que remete à sitcom "That 70's Show". Mas, enquanto o programa de TV é mais uma caricatura de um período, o longa de Linklater questiona a filosofia do "antigamente tudo era melhor", que guia -e paralisa- gente "mais velha".
"Jovens, Loucos e Rebeldes" é uma espécie de lado B de "Loucuras de Verão" (de George Lucas): pouca coisa é romantizada, ao contrário, quase todos são deliciosamente tolos. Acompanhamos diferentes grupos. Um dos mais interessantes, o trio nerd, é o que melhor verbaliza essa briga com o tempo. Outro personagem diz que não quer se lembrar do período da escola como a melhor época de sua vida; outro simplesmente apaga tudo da cabeça ao se entupir de maconha.
É na melhor parte do filme, a festa que enfim surge, que Linklater diz a que veio. Qualquer um que já varou a noite em uma daquelas longas festas movidas a muita música e papos cabeça sob o luar se encontrará nas "geniais" teorias, como as criadas por Cynthia (Marissa Ribisi). Ela vai direto ao ponto, ao dizer que tudo é uma questão de ciclos: os anos 60 foram o máximo por causa do rock; os 70, uma porcaria, e que portanto os anos 80 seriam promissores. Discussão mais do que relevante, já que eternos revivals guiam a cultura e a moda de qualquer época.


JOVENS, LOUCOS E REBELDES
  
Direção:
Richard Linklater
Distribuidora: Universal (R$ 37, em média)


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