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Crítica/"Jovens, Loucos e Rebeldes"
Comédia cult vai além da superfície teen
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A
vida é um amontoado
de digressões nos melhores filmes de Richard Linklater. Conversas que
não se concluem -e dão margem para dúvidas existenciais- e papos de boteco fazem
parte do cenário de cults como
"Waking Life" e "Antes do
Amanhecer".
Não há, no entanto, momento mais propício a filosofias de
ocasião -que parecem definitivas- que a adolescência. Em
"Jovens, Loucos e Rebeldes"
(1993), lançado agora em DVD,
estamos em um período de
transições, em que a incerteza
em relação ao futuro gera expectativas nebulosas.
É o último dia de aula em
uma escola no Texas, em 1976,
e o cenário que se apresenta é
típico de qualquer filme tolo
adolescente que povoava as telas nos anos 80. Veteranos perseguem impiedosamente os calouros durante o dia, enquanto
todos esperam ansiosos pela
chegada da noite e qualquer
possibilidade de diversão. Só
faltam machões sedentos por
sexo e garotas com seios à mostra. A transgressão de Linklater
caminha por outras vias.
O tempo, ou melhor, as ilusões e distorções causadas pela
nostalgia e pelo esquecimento
são o foco desta comédia que
remete à sitcom "That 70's
Show". Mas, enquanto o programa de TV é mais uma caricatura de um período, o longa
de Linklater questiona a filosofia do "antigamente tudo era
melhor", que guia -e paralisa-
gente "mais velha".
"Jovens, Loucos e Rebeldes"
é uma espécie de lado B de
"Loucuras de Verão" (de George Lucas): pouca coisa é romantizada, ao contrário, quase todos são deliciosamente tolos.
Acompanhamos diferentes
grupos. Um dos mais interessantes, o trio nerd, é o que melhor verbaliza essa briga com o
tempo. Outro personagem diz
que não quer se lembrar do período da escola como a melhor
época de sua vida; outro simplesmente apaga tudo da cabeça ao se entupir de maconha.
É na melhor parte do filme, a
festa que enfim surge, que Linklater diz a que veio. Qualquer
um que já varou a noite em uma
daquelas longas festas movidas
a muita música e papos cabeça
sob o luar se encontrará nas
"geniais" teorias, como as criadas por Cynthia (Marissa Ribisi). Ela vai direto ao ponto, ao
dizer que tudo é uma questão
de ciclos: os anos 60 foram o
máximo por causa do rock; os
70, uma porcaria, e que portanto os anos 80 seriam promissores. Discussão mais do que relevante, já que eternos revivals
guiam a cultura e a moda de
qualquer época.
JOVENS, LOUCOS E REBELDES
Direção: Richard Linklater
Distribuidora: Universal (R$ 37, em
média)
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