São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

CRÍTICA BALÉ

Genial e comovente, "mito" Baryshnikov se reinventa aos 62

O bailarino e Ana Laguna emocionam e divertem o público com o espetáculo "Três Solos e um Dueto"

FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO

"Três Solos e um Dueto", com Mikhail Baryshnikov e Ana Laguna, espetáculo apresentado no teatro Alfa, em São Paulo, na terça e na quarta passadas, pode ser visto como a síntese do que a dança conseguiu alcançar ao longo do século 20.
Natural da Letônia, Baryshnikov é dos poucos mitos sobreviventes do balé clássico, com sua épica história de deserção da União Soviética, em 1974. Contudo, aos 62 anos, ele sobrevive no palco graças ao próprio processo de adequação, primeiro à dança moderna, depois à contemporânea, caminho que poucos artistas conseguiram trilhar com tanta desenvoltura.
Nesse sentido, é um tanto estranho que o programa apresentado tenha início com o solo "Valse-Fantasie", do coreógrafo russo Alexei Ratmansky.
Quase pantomímico, o solo faz referências à sua terra natal, mas é como se dentro do bailarino os três gêneros da dança que ele percorreu brigassem entre si.
Contudo, as outras três peças compensam esse trôpego começo. "Solo for Two", com a espanhola Ana Laguna, 54, e a discreta participação de Baryshnikov, é simples e emocionante.
A bailarina foi durante décadas estrela do sueco Cullberg Ballet, com direção de seu marido, Mats Ek, que também coreografa "Solo for Two". Na peça, por meio de uma movimentação orgânica e com pequenas ironias, ela preenche o palco de forma comovente.
Já "Years Later", em que Baryshnikov aparece dançando com uma projeção de si mesmo, em sua fase de absoluto vigor físico, com seus impressionantes saltos, aos 17 anos, é genial.
É nesse momento que se vê como a superação da técnica permitiu que todo e qualquer movimento do corpo pudesse ser considerado dança.
Com seu carisma e a comoção da plateia frente ao mito, Baryshnikov alcança, na maturidade, uma impressionante reinvenção de si próprio com a coreografia criada por Benjamin Millipied.
Finalmente, o espetáculo, que ainda segue para Porto Alegre (no dia 27/10), Rio de Janeiro (nos dias 29/10 e 31/ 10), Brasília (4/11) e Manaus (14/11 e 15/ 11), termina com o duo "Place", também coreografado por Ek.
A trilha de Peder Freiij pede distintas energias, dando a cada um possibilidades de explorar diferentes evoluções, seja em situações ternas, seja em momentos explosivos. Eles pulam sobre uma mesa, jogam-se debaixo de um imenso tapete, simulam tocar instrumentos.
Já "Place" traz dois artistas que alcançaram o Olimpo e, agora, podem se divertir. E, com eles, todo o público.

TRÊS SOLOS E UM DUETO

AVALIAÇÃO ótimo


Texto Anterior: Última Moda - Vivian Whiteman: Etiqueta GG
Próximo Texto: Três Solos e um Dueto
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.