São Paulo, sábado, 22 de outubro de 2011

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CRÍTICA ROMANCE

Didatismo e final pouco inspirado prejudicam novo trabalho do autor


MAIS DO QUE OS CLICHÊS, INCOMODA NO ROMANCE O DIDATISMO BANAL QUE SURGE A TODO INSTANTE

ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Mais de um crítico já escreveu sobre o abuso de clichês nos livros de Jô Soares.
Em seu novo romance, "As Esganadas", eles lá estão também, inevitáveis, mas incomodam menos do que o didatismo banal que surge a todo instante e que culmina na infame "bibliografia" ao final do volume.
São coisas do tipo: "Herdara do pai a funerária Estige, denominação do rio que separava os mortos dos vivos na mitologia grega. Sua mãe, Odília Barroso, possuidora de um senso de humor discutível, o batizara de Caronte, como o barqueiro encarregado da travessia das almas...".
Ou também: "O Brasil estreou na terceira Copa do Mundo, na França, com uma vitória de 6 a 5 sobre a Polônia. Os europeus se espantaram com a habilidade de Leônidas da Silva, o Diamante Negro, criador da 'bicicleta'".
Da mitologia grega ao poeta português Fernando Pessoa, do catálogo de doenças bizarras ao almanaque culinário, tudo é bastante explicadinho, para que o leitor não tenha, obviamente, o trabalho de usar o Google para dirimir suas eventuais dúvidas (aviso: o resenhista está sendo irônico).
Há, contudo, um problema mais sério. O mínimo que se espera de uma história policial é que ela prenda o interesse. Aqui, o criminoso, obcecado por mulheres gordas no Rio de Janeiro no final da década de 30, é conhecido desde o início da trama.
Resta, assim, apenas jogar com a expectativa de como ele será desmascarado. E a solução, após mais de 250 longas páginas, é no mínimo bem pouco inspirada.

ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da USP.

AS ESGANADAS
AUTOR Jô Soares
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 36 (264 págs.)
AVALIAÇÃO ruim
LANÇAMENTO dia 26/10, às 18h, na loja da Companhia das Letras por Livraria Cultura (av. Paulista, 2.073; tel. 0/xx/11/3170-4033)



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