São Paulo, Segunda-feira, 22 de Novembro de 1999
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Brasília começa maior e de olho no milênio


Variedade de estilos dos 12 filmes em competição marca 32ª edição do festival, que abre hoje com "Encantamento"

Divulgação
Cena de "Cruz e Souza, o Poeta do Desterro", filme dirigido por Sylvio Back


INÁCIO ARAUJO
enviado especial a Brasília

O 32º Festival de Cinema de Brasília começa hoje com uma proposta atrevida: aumenta o número de longas-metragens concorrentes de oito para 12.
Serão dois filmes por dia, sem contar os curtas, entre amanhã e 29 de novembro, com a premiação sendo anunciada no dia 30.
Hoje a abertura se dá com a exibição do média-metragem "Encantamento", de José Sette, homenagem ao compositor Camargo Guarnieri (1907-1993), no cine Brasília, sede do festival.
A evidente vantagem do novo critério é evitar, ou pelo menos atenuar, as idiossincrasias de todas as comissões de seleção. Com isso, terão vez diretores com obra consolidada, como Eduardo Coutinho ("Santo Forte", atualmente em exibição em São Paulo) e Sylvio Back (que retorna à ficção com "Cruz e Souza, o Poeta do Desterro"), e cineastas ainda pouco conhecidos, como Luiz Villaça ("Por Trás do Pano", já exibido em São Paulo) ou Aluísio Didier, do documentário "Um Certo Dorival Caymmi".
A heterogeneidade da lista de filmes em competição tende a marcar o festival como um panorama do cinema brasileiro na virada do milênio.
Ao mesmo tempo que ficção e documentário convivem, será possível entrar em contato com espetáculos históricos ("Hans Staden", de Luiz Alberto Pereira), filmes contemporâneos ("Gêmeas", de Andrucha Waddington) e até mesmo "São Jerônimo", de Julio Bressane -que teve a ousadia (melhor seria dizer, no caso, a paixão) de filmar a vida do santo do século 5º.
À parte isso, Brasília parece refletir conquistas e preocupações do cinema nacional na virada do milênio. Ressurgida em meados da década -após o fechamento da Embrafilme no governo Collor-, essa cinematografia acumulou até aqui alguns indicadores positivos.
O principal deles talvez seja o surgimento de uma nova geração de cineastas, como Tata Amaral ou Beto Brant, além da consolidação de nomes que haviam se iniciado nos 80 (casos de Walter Salles e Ugo Giorgetti). Ao longo dos anos 90, alguns veteranos também realizaram trabalhos marcantes (Carlos Reichenbach e Walter Lima Jr., entre eles).
Foi, também, um momento em que o cinema brasileiro conseguiu marcar presença em festivais no exterior ou mesmo concorrendo três vezes ao Oscar (com "O Quatrilho", de Fábio Barreto, "O Que É Isso, Companheiro?", de Bruno Barreto, e "Central do Brasil", de Walter Salles) e produzir alguns "fenômenos de bilheteria" (isto é, trabalhos que concorreram de igual para igual com os filmes norte-americanos no mercado interno), como "Carlota Joaquina".
Mais do que tudo, a entrada da Rede Globo na produção cinematográfica pode anunciar um degelo nas relações cinema/televisão. Antes, só a TV Cultura paulista dedicava-se à co-produção, mesmo assim como o braço da política cultural do Estado de São Paulo. No momento, também o Multishow, canal por assinatura, prepara o lançamento de um concurso de telefilmes.
Apesar desses dados positivos, seria incorreto dizer que a situação é rósea para o cinema brasileiro nos próximos anos.


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