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LIVRO/LANÇAMENTO
A alma das ruas parisienses
Em "O Flâneur", Edmund White mostra uma cidade pouco familiar aos leitores
Remy de la Mauviniere/Associated Press
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Vista da torre Eiffel do alto da catedral de Notre Dame, em Paris cidade que é tema de "O Flâneur" |
RODRIGO MOURA
DA REDAÇÃO
O escritor americano Edmund
White viveu por 15 anos em Paris,
opção que remonta à geração do
modernismo dos anos 20, quando
autores como Ernest Hemingway
fizeram da capital francesa seu lar,
fugindo do puritanismo e provincianismo de seu país e da proibição à bebida -e se aproveitando
da condição de capital das artes
que a cidade ostentava.
A vida literária parisiense e sua
relação com o elemento estrangeiro são alguns dos temas que
White aborda em "O Flâneur
-°Um Passeio pelos Paradoxos de
Paris", lançamento da série "O Escritor e a Cidade", da Companhia
das Letras, que ainda vai reservar
volumes ao Rio (Ruy Castro) e a
Havana (Pedro Juán Gutiérrez).
Construído entre guia afetivo e
ensaio, o livro se apropria do flâneur para revelar a alma das ruas
parisienses. Trata-se de figura tematizada por Baudelaire, que vaga pelas ruas da cidade moderna
em busca de uma espécie de devir.
White é o mais importante biógrafo de Jean Genet e ficcionista,
autor de "Um Jovem Americano"
(Siciliano) e de mais uma dezena
de romances.
Folha - Como o flâneur lida hoje
com a cidade, um tema em mutação de tempo e espaço?
Edmund White - Acredito que o
"flâneur", mais que qualquer outro tropo do século 19, ainda é um
tema literário fértil por se tratar de
um princípio aleatório. O "flâneur" não se programa para fazer
nada ou ver nada. Ele (ou ela) reconhece o chamado do imprevisto e emerge na vastidão da cidade
multicultural. Não queria lidar
com a Paris do "high fashion", das
viúvas de oficiais do Exército, da
alta culinária e dos produtos de
luxo. Gosto da Paris judaica, da
Paris gay, da Paris árabe, da Paris
vietnamita, e até da Paris monarquista -a Paris da extrema direita e da extrema esquerda. Quis escrever algo que parecesse pouco
familiar ao leitor.
Folha - Como o sr. vê o declínio da
influência cultural francesa?
White - Paris definitivamente
perdeu terreno como capital
mundial da pintura e da escultura. Mas, surpreendentemente, se
tornou um importante centro de
música e dança. A vida literária
francesa está tão ativa quanto
sempre, com grande número de
lançamentos anuais e prêmios literários bem divulgados, mas
poucos autores contemporâneos
conhecidos no exterior.
Folha - Como Paris lidou com a cena gay nos últimos anos e agora?
Houve uma mudança?
White - Quando me mudei para
Paris em 1983, não havia gueto
gay reconhecível nem presença
gay visível. Quando deixei a cidade, no final da década de 90, tudo
havia mudado. Acredito que a
Aids fez com que os franceses
abandonassem sua hostilidade
para com as políticas identitárias.
Os gays se tornaram mais visíveis
e passaram a ter um bairro central
onde se encontrar (o Marais) e
presença em publicações e espaços culturais.
Folha - Paris ainda é um bom lugar para ser escritor?
White - Paris é um bom lugar para ser escritor se tivermos um
pouco de dinheiro. A cidade tem
um rico passado literário e até a
zeladora do prédio respeita o métier. Além disso, os escritores
exercem importante papel na vida cultural contemporânea. De
um ponto de vista mais mundano, as pessoas respeitam mais a
privacidade em Paris. Há muitas
livrarias dedicadas à literatura.
O FLÂNEUR - UM PASSEIO PELOS
PARADOXOS DE PARIS - "The Flâneur: A
Stroll through the Paradoxes of Paris".
De: Edmund White. Editora: Companhia
das Letras (tel. 0/xx/11/3846-0801).
Tradução: Reinaldo Moraes. Ilustrações:
Paulo Pasta. Quanto: R$ 26,50 (216
págs.).
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