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Estréia hoje "Edifício Master", em que Eduardo Coutinho retrata a vida de moradores de um prédio carioca
Labirinto do cotidiano
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Retido no trânsito do Rio, o cineasta Eduardo Coutinho, 69, se
atrasou 45 minutos para um debate sobre "Edifício Master", seu
mais recente documentário, que
estréia hoje nos cinemas.
Quando chegou ao endereço do
encontro, deu-se com uma sala
repleta de gente que o aguardava.
"Vocês são supermasoquistas.
Além de assistirem a documentário, esperam quase uma hora pelo
papo", desafiou a platéia.
A frase sintetiza à perfeição o
temperamento do diretor, que é
considerado o maior documentarista brasileiro (autor do antológico "Cabra Marcado para Morrer"
e dos recentes "Santo Forte" e
"Babilônia 2000"), é tema de um
livro (de Consuelo Lins) e de um
filme (de Beth Formaggini), ambos em preparação, mas não faz
caso da fama. "Digo isso para não
me levar a sério. Odeio a idéia da
perfeição", diz o diretor.
Em "Edifício Master", Coutinho
abandona o território das favelas
cariocas (por onde transitou em
muitos de seus filmes) e enfoca
moradores de um prédio em Copacabana, o Master do título.
"É fácil fazer um filme num lugar como a favela, em que o conflito está instalado. Nesse prédio,
você tem a vida obscura, banal,
sem arroubos. Contar essa história aparentemente não tem força.
O difícil é, num quadro de pessoas
comuns, encontrar o singular."
Neste documentário, o diretor
radicaliza seu método cinematográfico, de câmera parada e cuja
única ação é o diálogo com os personagens. Coutinho explica que
exceções à própria regra são admitidas -como no inédito "Os
Peões do ABC", no qual reconstituirá a trajetória de metalúrgicos
contemporâneos de Lula no movimento operário dos anos 70 e
80- porque o cinema "não é para ser uma seita". "Com "Peões"
vou ter de jogar esse jogo de forma diferente, porque é outro tipo
de filme, outra relação com o tempo. Terá imagens de arquivo e,
possivelmente, narração em off."
Em "Edifício Master", o traço
melodramático de muitos dos 17
relatos pessoais chamou a atenção do diretor. "O melodrama
clássico, que vem do folhetim e
está na telenovela até hoje, é o drama do reconhecimento. Geralmente, de uma questão familiar.
Não se trata de reconhecer o inimigo, mas saber de quem sou pai,
de quem sou filho. A presença
disso é fortíssima no filme, sem
que tivéssemos buscado."
Nas filmagens de "Os Peões do
ABC", feitas entre o primeiro e o
segundo turnos das eleições 2002,
Coutinho teve outra experiência
reveladora. "Vi como alguém sai
de um buraco emocional", diz. E
como se sai dele? Coutinho guarda a resposta para o filme.
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