São Paulo, sexta-feira, 22 de novembro de 2002

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Estréia hoje "Edifício Master", em que Eduardo Coutinho retrata a vida de moradores de um prédio carioca

Labirinto do cotidiano

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Retido no trânsito do Rio, o cineasta Eduardo Coutinho, 69, se atrasou 45 minutos para um debate sobre "Edifício Master", seu mais recente documentário, que estréia hoje nos cinemas.
Quando chegou ao endereço do encontro, deu-se com uma sala repleta de gente que o aguardava. "Vocês são supermasoquistas. Além de assistirem a documentário, esperam quase uma hora pelo papo", desafiou a platéia.
A frase sintetiza à perfeição o temperamento do diretor, que é considerado o maior documentarista brasileiro (autor do antológico "Cabra Marcado para Morrer" e dos recentes "Santo Forte" e "Babilônia 2000"), é tema de um livro (de Consuelo Lins) e de um filme (de Beth Formaggini), ambos em preparação, mas não faz caso da fama. "Digo isso para não me levar a sério. Odeio a idéia da perfeição", diz o diretor.
Em "Edifício Master", Coutinho abandona o território das favelas cariocas (por onde transitou em muitos de seus filmes) e enfoca moradores de um prédio em Copacabana, o Master do título.
"É fácil fazer um filme num lugar como a favela, em que o conflito está instalado. Nesse prédio, você tem a vida obscura, banal, sem arroubos. Contar essa história aparentemente não tem força. O difícil é, num quadro de pessoas comuns, encontrar o singular."
Neste documentário, o diretor radicaliza seu método cinematográfico, de câmera parada e cuja única ação é o diálogo com os personagens. Coutinho explica que exceções à própria regra são admitidas -como no inédito "Os Peões do ABC", no qual reconstituirá a trajetória de metalúrgicos contemporâneos de Lula no movimento operário dos anos 70 e 80- porque o cinema "não é para ser uma seita". "Com "Peões" vou ter de jogar esse jogo de forma diferente, porque é outro tipo de filme, outra relação com o tempo. Terá imagens de arquivo e, possivelmente, narração em off."
Em "Edifício Master", o traço melodramático de muitos dos 17 relatos pessoais chamou a atenção do diretor. "O melodrama clássico, que vem do folhetim e está na telenovela até hoje, é o drama do reconhecimento. Geralmente, de uma questão familiar. Não se trata de reconhecer o inimigo, mas saber de quem sou pai, de quem sou filho. A presença disso é fortíssima no filme, sem que tivéssemos buscado."
Nas filmagens de "Os Peões do ABC", feitas entre o primeiro e o segundo turnos das eleições 2002, Coutinho teve outra experiência reveladora. "Vi como alguém sai de um buraco emocional", diz. E como se sai dele? Coutinho guarda a resposta para o filme.


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