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Crítica/DVD/"Rede de Intrigas"
Drama de Sidney Lumet questiona TV
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
"Eu estava na CBS
com Ed Murrow
em 1951", diz o veterano jornalista Howard Beale
a seu chefe, em referência a um
personagem célebre na imprensa dos EUA por enfrentar
na TV o então senador Joseph
McCarthy -episódio recriado
por "Boa Noite e Boa Sorte"
(2005), de George Clooney.
Beale quer dizer, com a lembrança, que participou da adolescência do telejornalismo
americano e também de sua entrada na vida adulta. Mas, nos
anos 70, isso representava, para
muita gente, que ele era um dinossauro incapaz de se adaptar
aos novos tempos em que jornalismo e entretenimento começavam a se confundir.
Com a progressiva perda de
audiência do telejornal que
apresenta, Beale é demitido.
No primeiro dia de aviso prévio, abre o programa anunciando, ao vivo para todo o país, que
vai estourar os miolos na frente
das câmeras dali a uma semana.
"Rede de Intrigas" (1976)
acompanha a tormenta que
move sua emissora a partir desse aviso tresloucado.
Interpretado com exuberância por Peter Finch (1912-1977), que ganhou um Oscar
póstumo pelo papel, Beale é um
personagem fictício que trabalha em uma também fictícia rede de TV dos EUA, mas o drama
insólito protagonizado por ele
aponta para um jogo de forças
muito concreto que apenas
se esboçava nos anos 70 e
que, desde então, só vem se
aprofundando.
A contundência e o caráter
premonitório do filme se devem sobretudo àquele que os
créditos apresentam como seu
autor, o lendário roteirista
Paddy Chayefsky (1923-1981),
que recebeu pelo trabalho seu
terceiro Oscar -os anteriores
foram por "Marty" (1955) e
"Hospital" (1971).
Veterano profissional de televisão, Chayefsky ambienta
nos corredores da UBS -calcada nas "co-irmãs" CBS, NBC e
ABC- uma demolidora peça de
acusação da transformação da
vida contemporânea em espetáculo, da banalização do jornalismo e do triunfo do cinismo
sobre a integridade moral, na
TV e em outros quadrantes.
Além do pobre Beale, a trama
-dirigida por Sidney Lumet
("Um Dia de Cão"), outro veterano da TV tem como protagonistas o diretor de jornalismo da rede (William Holden) e
uma inescrupulosa executiva
em ascensão (Faye Dunaway).
No vigoroso panorama do cinema americano dos anos 70,
"Rede..." era apenas mais um
exemplo de como fazer filmes
adultos a partir de temas sociais agudos. Em seu diagnóstico da TV, talvez ainda não tenha sido superado.
REDE DE INTRIGAS
Distribuidora: Fox
Quanto: R$ 29,90 (14 anos)
Avaliação: ótimo
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