São Paulo, segunda-feira, 22 de novembro de 2010

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CRÍTICA ROCK

Lou Reed faz noite de som, fúria e dispersão

Músico foi fiel aos seus ideais em show com microfonias e poucos vocais; "brinde" foi canção do Velvet Underground

THALES DE MENEZES
EDITOR-INTERINO DA SÃOPAULO

Lou Reed, 68, cumpriu o que prometeu. Subiu ao palco do Sesc Pinheiros anteontem e conduziu com o Metal Machine Trio uma sessão de 80 minutos de barulho. Sem os hits ou qualquer coisa que lembrasse uma canção.
O público de 1.100 pessoas não gostou, ele sim. Até voltou para um inesperado bis.
O show retoma "Metal Machine Music", de 1975, seu disco mais radical. Tratado como piada ou provocação, tem gravações rudes de guitarra reproduzidas em diferentes velocidades.
A apresentação não foi uma versão fiel do álbum.
Reed improvisou muito. Seus talentosos parceiros foram Ulrich Krieger, saxofonista, e Sarth Calhoun, programador de sons eletrônicos.
Nos primeiros nove minutos, só microfonia incômoda.
Pessoas colocaram os dedos nos ouvidos, tática muito repetida. Reed ficou sentado com a guitarra. Além de tocar, cortava com mais barulho desagradável quando Krieger esboçava melodias.
Após 36 minutos, soltou o vozeirão em quatro frases incompreensíveis. Mais tarde, cantou: "Eu vejo através de seus olhos/ O que você vê?".
No fim, emitiu sons guturais, como numa cerimônia tribal.
O show foi uma peça única, sem intervalos. Após 20 minutos, cerca de 50 pessoas tinham deixado a sala. O esvaziamento continuou e mais uma centena não chegou ao final, quando Reed levantou da cadeira e foi tocar na frente do palco.
Com a microfonia detonando os tímpanos, disse que amava quem estava ali, soltou um "obrigado" em português e saiu de cena.
A plateia sofrida pediu bis.
Sem resposta, começou a sair. Quando cerca de 50% do público já estava fora, Reed voltou. Sozinho, fez uma curta versão de "I'll Be Your Mirror", do primeiro álbum de seu grupo nos anos 1960, Velvet Underground.
Esse "brinde" aos sobreviventes do barulho foi uma aprovação do cantor à plateia. Apesar das desistências, não houve vaias nem confronto com fãs, o que já provocou shows interrompidos na turnê. Reed saiu então ovacionado por seus seguidores fiéis, agora felizes.
Na carreira, ele nunca escolheu a alternativa fácil. E foi assim no sábado. Poderia cantar os velhos hits, mas preferiu mostrar a música que o interessa agora, embora quase ninguém a reconheça como música de verdade. Quem testemunhou a performance de um ícone fiel a seus princípios ganhou uma singela canção de presente.
Final feliz para uma noite de som, fúria e rock and roll.


LOU REED
AVALIAÇÃO ótimo




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