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CRÍTICA ROCK
Lou Reed faz noite de som, fúria e dispersão
Músico foi fiel aos seus ideais em show com microfonias e poucos vocais; "brinde" foi canção do Velvet Underground
THALES DE MENEZES
EDITOR-INTERINO DA SÃOPAULO
Lou Reed, 68, cumpriu o
que prometeu. Subiu ao palco do Sesc Pinheiros anteontem e conduziu com o Metal
Machine Trio uma sessão de
80 minutos de barulho. Sem
os hits ou qualquer coisa que lembrasse uma canção.
O público de 1.100 pessoas
não gostou, ele sim. Até voltou para um inesperado bis.
O show retoma "Metal Machine Music", de 1975, seu
disco mais radical. Tratado
como piada ou provocação,
tem gravações rudes de guitarra reproduzidas em diferentes velocidades.
A apresentação não foi uma versão fiel do álbum.
Reed improvisou muito. Seus
talentosos parceiros foram
Ulrich Krieger, saxofonista, e Sarth Calhoun, programador de sons eletrônicos.
Nos primeiros nove minutos, só microfonia incômoda.
Pessoas colocaram os dedos
nos ouvidos, tática muito repetida. Reed ficou sentado
com a guitarra. Além de tocar, cortava com mais barulho desagradável quando
Krieger esboçava melodias.
Após 36 minutos, soltou o
vozeirão em quatro frases incompreensíveis. Mais tarde,
cantou: "Eu vejo através de seus olhos/ O que você vê?".
No fim, emitiu sons guturais, como numa cerimônia tribal.
O show foi uma peça única, sem intervalos. Após 20
minutos, cerca de 50 pessoas
tinham deixado a sala. O esvaziamento continuou e
mais uma centena não chegou ao final, quando Reed levantou da cadeira e foi tocar
na frente do palco.
Com a microfonia detonando os tímpanos, disse
que amava quem estava ali, soltou um "obrigado" em português e saiu de cena.
A plateia sofrida pediu bis.
Sem resposta, começou a
sair. Quando cerca de 50%
do público já estava fora,
Reed voltou. Sozinho, fez
uma curta versão de "I'll Be
Your Mirror", do primeiro álbum de seu grupo nos anos
1960, Velvet Underground.
Esse "brinde" aos sobreviventes do barulho foi uma
aprovação do cantor à plateia. Apesar das desistências,
não houve vaias nem confronto com fãs, o que já provocou shows interrompidos
na turnê. Reed saiu então
ovacionado por seus seguidores fiéis, agora felizes.
Na carreira, ele nunca escolheu a alternativa fácil. E
foi assim no sábado. Poderia
cantar os velhos hits, mas
preferiu mostrar a música
que o interessa agora, embora quase ninguém a reconheça como música de verdade.
Quem testemunhou a performance de um ícone fiel a
seus princípios ganhou uma
singela canção de presente.
Final feliz para uma noite de som, fúria e rock and roll.
LOU REED
AVALIAÇÃO ótimo
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