São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 2000

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CRÍTICA

Conflito prefere o humano ao político

"Solo voy con mi pena/ Sola va mi condena/ Correr es mi destino/ Para burlar la ley/ Perdido en el corazón/ De la grande Babylon/ Me dicen el clandestino/ Por no llevar papel" O cantor francês Manu Chao, na música "Clandestino"

DA REPORTAGEM LOCAL

A câmera cambaleia pela mata, na fronteira do México com os EUA. O que a lente tenta acompanhar é a desabalada carreira de um grupo de clandestinos. Às cegas, o bando de mexicanos segue instruções de traficantes de imigrantes que os colocam brutalmente dentro de uma perua. São compatriotas, mas isso não os faz solidários. Cobram pelo transporte para a terra prometida e não hesitam em roubar e abusar dos fugitivos.
As cenas iniciais de "Pão e Rosas" dão a medida do pesadelo que se avizinha no novo território. Mas a mesma lente que segue o desespero dos imigrantes ao se depararem com os horrores da segregação étnica e econômica nos EUA também os trata com humor e romantismo.
As irmãs Maya e Rosa tomam posições que refletem as contradições de sua situação. Rosa não admite a sindicalização e quer garantir o sustento dos seus e nada mais. Para ela, os poderosos serão sempre poderosos. Deve-se agarrar às migalhas que sobram desse rico universo e fazer disso uma existência.
Maya é idealista e quer mudar o mundo, anarquizando a vida dos patrões em seu primeiro dia de trabalho. O embate final entre as duas é o ponto alto do filme, um clímax cheio de angústia e ressentimento.
O conflito das irmãs, a paixão do ativista sindical branco, a evolução das relações entre os membros do grupo de faxineiros e o fortalecimento de suas posições pessoais -às vezes discordantes-, mais do que o crescimento de todos como um corpo com interesses únicos, é o que faz o cinema de Loach mais humano do que político.


Pão e Rosas
Bread and Roses
    
Direção: Ken Loach
Produção: Reino Unido/França/Espanha/Suíça, 2000
Com: Pilar Padilha, Adrien Brody
Quando: a partir de hoje no Top Cine





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