|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Música - Crítica/"Renato Russo - Entrevistas"
Russo explica seu mundo em DVD
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Para quem não gosta de
Renato Russo, ver mais
de 140 minutos quase
ininterruptos de seu discurso
atormentado e cheio de pose
-e com os usuais chiliques-
pode soar como dolorosa tortura. Mas mesmo esses terão razões para ver "Renato Russo
-Entrevistas", DVD com três
conversas gravadas pela MTV
entre 1993 e 1994. Parte do material já havia sido exibida na
programação da emissora, mas
as entrevistas nunca tinham sido transmitidas na íntegra.
O registro traz Russo (1960-1996) comentando -de modo
ao mesmo tempo lúcido e vertiginoso- vários aspectos da
transformação da cultura popular que se viu no Brasil na virada dos 80 para os 90, do qual
ele e a Legião Urbana foram um
dos protagonistas.
A redemocratização do país,
uma certa abertura moral da
sociedade -que permitia que
os gays saíssem do escuro- e a
disseminação do punk entre os
jovens de classe média foram as
molas propulsoras que tanto fizeram possível o surgimento da
Legião -e de outras bandas daquele conhecido "boom"-, como propiciaram sua imediata
aceitação pelo público jovem.
Renato e seus amigos tocaram o coração de meninos e
meninas que nasceram sob a
ditadura e para quem as utopias que haviam motivado as
gerações anteriores já não faziam mais sentido.
Perguntado sobre porque fazia letras tão tristes quando o
assunto era o Brasil, Russo disse, em 1994: "Esses anos que
passaram para mim foram um
grande velório do Ayrton Senna. Primeiro vem o Tancredo,
aí a gente teve esperança... aí o
Tancredo morre. Depois as
eleições. Aí: "tudo bem, é o Collor, mas quem sabe...", e depois
deu no que deu. Não dava pras
músicas não refletirem isso."
Vestindo camisas leves, fumando e gesticulando, Russo
conta como seus vários namorados tinham substituído um
grande amor frustrado que o
traumatizara para sempre.
Na entrevista concedida em
março de 1994, há poucos dias
do suicídio de Kurt Cobain, faz
um comentário premonitório.
Começa dizendo que parou de
beber e que está se cuidando,
pois "tenho 34 anos e não quero
ser um mártir do rock". A repórter, então, pergunta sobre
Cobain, e ele diz: "Esse vai embora rapidinho". E acrescenta
que já havia superado uma dor
igual a que acreditava que o líder do Nirvana estava sentindo.
Cuidadoso ao falar de cada
faixa, reclama do fato de as pessoas não entenderem o peso
dramático de sua poesia. "O
"Descobrimento do Brasil" é um
disco sobre perda, todas as músicas são sobre despedida", mas
ninguém nunca comentou isso", diz. "E "Pais e Filhos", por
exemplo, é sobre suicídio, mas
as pessoas não percebem, e
acham bonito. Pô, precisa explicar? A letra é: "Ela se jogou da
janela do quinto andar, nada é
fácil de entender..."."
Para quem ainda busca significados sobre o que Russo escreveu ou simplesmente quer
matar saudades e dividir com
ele suas angústias, esses 140
minutos são, na verdade, um
belo presente.
RENATO RUSSO - ENTREVISTAS
Artista: Renato Russo
Lançamento: MTV
Preço: R$ 32
Texto Anterior: CDs Próximo Texto: Frases Índice
|