São Paulo, sábado, 22 de dezembro de 2007

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Autora gerou polêmica em texto sobre desaparecimento da menina Madeleine

DA REPORTAGEM LOCAL

Pouco mais de uma semana antes de ganhar o Booker Prize, a escritora Anne Enright publicou no "The London Review of Books" um longo ensaio sobre Madeleine McCann, a menina inglesa cujo desaparecimento em Portugal chegou a levantar suspeitas até mesmo sobre o comportamento de seus pais.
O jornal "The New York Times" chamou o texto de "um exame sutil de emoções intricadas que, às vezes, se contradizem", bem ao estilo da própria obra de Enright.
Já tablóides britânicos, como o "The Evening Standard", e até jornais sérios como "The Independent" transformaram o texto em controvérsia, citando o trecho em que Enright diz "por que não gostava dos McCanns antes mesmo da maioria das pessoas". Isso, sem citar o desfecho em que a própria Enright se dizia envergonhada do sentimento.
"Eu não sei se eles não gostaram do fato de uma mulher irlandesa ter ganhado o Booker ou do que eu escrevi de fato. Porque eles deram uma versão enviesada e parcial do que eu havia dito", afirma Enright, que avalia o caso como um erro de "timing".
"Eu me arrependi do momento em que escrevi o artigo, porque ninguém se importou com o que eu pensava a respeito dos McCann, ou qualquer coisa, até que ganhei o prêmio."
Passada a polêmica do artigo de Enright, outros dois escritores de língua inglesa enfrentaram reações adversas por terem emitido suas opiniões sobre questões nevrálgicas. Primeiro foi o britânico Martin Amis, que se declarou "superior" a qualquer pessoa que venha de um Estado muçulmano "menos civilizado".
E depois a também britânica Doris Lessing, vencedora do Nobel de Literatura de 2007, que disse que as perdas do 11 de Setembro, no ataque ao World Trade Center, em Nova York, "não foram tão terríveis" se comparadas às perdas conseqüentes de 30 anos de ação terrorista do IRA (Exército Republicano Irlandês).
O jornal britânico "The Guardian" chegou a ponderar num artigo que as opiniões de romancistas sobre grandes questões atuais podem ser pouco palatáveis. Mas, ao menos, os escritores "não correm o risco de parecer idiotas". Enright é reticente quanto à polêmica.
"Eu realmente não gostaria de ver meu nome ligado às visões de Martin Amis em relação aos muçulmanos porque não era minha intenção ser controversa ou ofensiva em relação aos McCanns. Ao passo que essas eram, ao meu ver, as intenções de Amis em relação aos muçulmanos. Por isso não acho que possa comentar, são dois casos diferentes."
Um romancista pode ou deve dizer suas idéias sobre assuntos de natureza política ou social?
"Um ser humano pode expressar suas opiniões? Qual a diferença entre um escritor e qualquer outro ser humano?", indaga Enright, esquecendo-se que, como escritora, tem mais acesso aos meios de comunicação. E defendendo: "Hoje qualquer um pode publicar sua opinião na internet".
(EDUARDO SIMÕES)


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