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Autora gerou polêmica em texto sobre desaparecimento da menina Madeleine
DA REPORTAGEM LOCAL
Pouco mais de uma semana
antes de ganhar o Booker Prize,
a escritora Anne Enright publicou no "The London Review of
Books" um longo ensaio sobre
Madeleine McCann, a menina
inglesa cujo desaparecimento
em Portugal chegou a levantar
suspeitas até mesmo sobre o
comportamento de seus pais.
O jornal "The New York Times" chamou o texto de "um
exame sutil de emoções intricadas que, às vezes, se contradizem", bem ao estilo da própria
obra de Enright.
Já tablóides britânicos, como
o "The Evening Standard", e
até jornais sérios como "The
Independent" transformaram
o texto em controvérsia, citando o trecho em que Enright diz
"por que não gostava dos
McCanns antes mesmo da
maioria das pessoas". Isso, sem
citar o desfecho em que a própria Enright se dizia envergonhada do sentimento.
"Eu não sei se eles não gostaram do fato de uma mulher irlandesa ter ganhado o Booker
ou do que eu escrevi de fato.
Porque eles deram uma versão
enviesada e parcial do que eu
havia dito", afirma Enright, que
avalia o caso como um erro de
"timing".
"Eu me arrependi do momento em que escrevi o artigo,
porque ninguém se importou
com o que eu pensava a respeito dos McCann, ou qualquer
coisa, até que ganhei o prêmio."
Passada a polêmica do artigo
de Enright, outros dois escritores de língua inglesa enfrentaram reações adversas por terem emitido suas opiniões sobre questões nevrálgicas. Primeiro foi o britânico Martin
Amis, que se declarou "superior" a qualquer pessoa que venha de um Estado muçulmano
"menos civilizado".
E depois a também britânica
Doris Lessing, vencedora do
Nobel de Literatura de 2007,
que disse que as perdas do 11 de
Setembro, no ataque ao World
Trade Center, em Nova York,
"não foram tão terríveis" se
comparadas às perdas conseqüentes de 30 anos de ação terrorista do IRA (Exército Republicano Irlandês).
O jornal britânico "The
Guardian" chegou a ponderar
num artigo que as opiniões de
romancistas sobre grandes
questões atuais podem ser pouco palatáveis. Mas, ao menos,
os escritores "não correm o risco de parecer idiotas". Enright
é reticente quanto à polêmica.
"Eu realmente não gostaria
de ver meu nome ligado às visões de Martin Amis em relação aos muçulmanos porque
não era minha intenção ser
controversa ou ofensiva em relação aos McCanns. Ao passo
que essas eram, ao meu ver, as
intenções de Amis em relação
aos muçulmanos. Por isso não
acho que possa comentar, são
dois casos diferentes."
Um romancista pode ou deve
dizer suas idéias sobre assuntos
de natureza política ou social?
"Um ser humano pode expressar suas opiniões? Qual a
diferença entre um escritor e
qualquer outro ser humano?",
indaga Enright, esquecendo-se
que, como escritora, tem mais
acesso aos meios de comunicação. E defendendo: "Hoje qualquer um pode publicar sua opinião na internet".
(EDUARDO SIMÕES)
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