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Comentário
Série "Toma Lá, Dá Cá" chega ao fim desperdiçando talentos e sacadas
HUGO POSSOLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Assim que escrevi sobre Miguel Falabella aqui na Folha,
fomos apresentados. Ele tentou definir um crítico: "É o cara
que sabe onde é a festa, sabe
quem são os convidados, mas
não tem carro para ir à festa!".
Rimos juntos. Porém seu comentário revela mais o vínculo
com o poder da grana do que
com alguma inquietação artística. Por essa, dá para entender
o que leva ao fim o "Toma Lá,
Da Cá". Refém de seu nome,
não deu o que a Globo queria e
apresenta seu último episódio.
Um programa de TV, em geral, acaba quando pesquisas de
mercado o condenam ou quando os índices de audiência são
muito baixos. Não tem nada a
ver com arte.
Só que no "business" das comédias de situação é diferente.
Uma sitcom norte-americana,
por exemplo, tem mais de 40
redatores que estudam os detalhes de cada piada.
A estrutura de "Toma Lá..." é
uma bela sacada. Reúne casais
trocados e filhos adolescentes
em apartamentos colados e
ainda dividindo a mesma empregada doméstica.
Mas raras vezes o programa
se apoiou nisso. Fugiu da trama, extrapolou os ambientes e
deixou as personagens sem
função, reduzindo-as a meros
estereótipos.
As histórias brecavam nos
comentários de desqualificação alheia, que tratam o público como incapaz de tirar suas
próprias conclusões.
Desperdiçaram-se talentos.
Norma Bengell, como a lésbica
Deise, só entrava em cena para
ser avacalhada por ser sapatão.
Sua função era ser plataforma
para alçar preconceitos.
Mais constrangedor era ver
um gênio da atuação como Diogo Vilela acuado numa personagem sem cara nem voz.
Enfim, não é uma fórmula
que se esgotou, é o quanto não
foi aproveitada na televisão.
Não tem a ver com dinheiro,
mas com atenção à arte.
Seu último episódio, "Caminho das Estrelas", que vai ao ar
hoje, faz uma fina ironia. Saiu
tanto de seu próprio contexto
que somente alienígenas para
salvar a nave perdida do edifício Jambalaya do rumo ao esquecimento total.
HUGO POSSOLO, 47, é palhaço, dramaturgo e
diretor do Parlapatões e do Circo Roda Brasil.
Também é autor do livro "Palhaço-Bomba"
TOMA LÁ, DÁ CÁ
Quando: hoje, às 22h45, na Globo
Classificação: não indicado a menores de 14 anos
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