São Paulo, quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

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Laura Lima cria teatro absurdo em individual no Rio

Artista usa homens e mulheres de verdade em suas obras, como o casal que descansa numa rede imensa

Exposição tem, de um lado, a ordem e, do outro, o caos, com tábuas retorcidas em turbilhão de andaimes

SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Laura Lima nunca buscou a perfeição. Suas esculturas não são de pedra polida nem de bronze. É a carne humana, viva, que molda, transformando corpo em matéria.
"Penso a coisa e depois construo os aparatos para fazer a imagem", diz Lima, na montagem de sua mostra aberta agora na Casa França-Brasil, no Rio. "Estou me sentindo criando uma ópera."
No caso, é uma ópera em que ela fez só o cenário, delegando a complexa regência para seus homens-objetos.
Lima subverte a estrutura neoclássica do prédio no centro do Rio. Ela instala de um lado a ordem, com prateleiras ortogonais atulhadas de objetos, e do outro, o caos, tábuas retorcidas num imenso turbilhão de andaimes.
Dois mágicos nus, homens com fraques de mangas curtas, habitam esse espaço, criando objetos ao acaso moldados com um arsenal de papéis, coisas, tralha sortida. São observados por um casal estranho, aninhado numa rede gigante ao fundo do prédio. Ele tem as sobrancelhas alongadas, uma cascata de pelos que cobre o rosto.
Ela tem os pelos pubianos agigantados, que serpenteiam por mais de um metro entre as pernas e pela rede. Mas não são estátuas. Eles respiram, trocam de posição, vivem ali no ócio que se opõe ao vigor criativo do mágico.
Na sala ao lado, a artista rebaixou o teto para menos de um metro de altura, fazendo o lustre encostar no chão.
Lá atrás, pôs modelos para dormir: homens e mulheres com o corpo atrofiado por doenças degenerativas.
"É como se estivesse esculpindo o corpo", diz Lima. "Isso cria uma paisagem diferente, altera a perspectiva." Longe da idealização do espaço proposto pelo equilíbrio absoluto do prédio, a artista cria um teatro de arquitetura obtusa, corpos menos que perfeitos que se enroscam na dinâmica transgressora da vida que está bem mais para real do que ideal.

O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da Fundação Casa França-Brasil.

LAURA LIMA

QUANDO de ter. a dom., das 10h às 20h; até 20/2
ONDE Fundação Casa França-Brasil (r. Visconde de Itaboraí, 78, Rio, tel. 0/xx/21/2332-5120)
QUANTO grátis


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