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São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 2003

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Ministro francês prega defesa de cultura nacional em encontro com Gil

França pede protecionismo ao Brasil

ALCINO LEITE NETO DE PARIS

Os franceses querem convencer o Brasil a ficar ao seu lado na luta que empreendem pelo princípio da "exceção cultural". O termo designa uma política econômica que distingue os bens culturais das demais mercadorias, criando leis especiais e até de proteção no sistema da livre circulação.
O ministro da Cultura, Gilberto Gil, em visita a Paris, foi cobrado por autoridades francesas para que o Brasil defina com clareza sua posição a respeito. Para eles, a fórmula da "exceção cultural" seria a única capaz de garantir a diversidade dos bens culturais num mundo de economia monopolista, sobretudo americana.
"Eles gostariam, sim, de ter um alinhamento mais direto do Brasil com a posição deles. Meu sentimento é esse: eles estão preocupados", disse Gil à Folha. Segundo o ministro, a posição brasileira até agora tem sido de se alinhar "com o conceito do livre comércio, de livre circulação internacional".
Gil admite que o Brasil pode "refletir" acerca da posição francesa e considerar a idéia de "pequenos protecionismos para setores da sua vida cultural". "É uma questão a ser examinada e aprofundada", disse Gil, que pessoalmente parece preferir uma política cultural não-protecionista.
Na cerimônia de entrega a Gil do título de comendador das Artes e das Letras da França, ontem, em Paris, o ministro da Cultura da França, Jean-François Aillagon, afirmou que espera que as relações futuras do Brasil com a França envolvam a adoção comum do "princípio de defesa da diversidade cultural". O ministro brasileiro não citou a questão em seu discurso de agradecimento.
A cerimônia, em um dos sofisticados salões do Palais Royal, na sede do Ministério da Cultura, durou cerca de 20 minutos. Aillagon saudou Gil de improviso e leu uma pequena biografia do ministro, citando a Bossa Nova, o Tropicalismo, a prisão e o exílio. "Quero honrar este grande artista, que eleva a um patamar muito alto a qualidade da criação musical de seu país", disse.
Gil, vestido em um sóbrio terno cinza, agradeceu em francês, com os olhos úmidos, dizendo que a homenagem significava o "amor que existe entre os dois países (França e Brasil)".

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