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Crítica/"Juventude"
Filme é ponto alto de Domingos Oliveira
Com olhar irônico e caloroso, longa sobre três amigos que se reúnem para relembrar o passado faz uma celebração da vida
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O título pode parecer
irônico, afinal trata-se
do encontro de três
amigos que estão beirando os
70 anos, mas é antes poético.
Juventude aqui, mais do que
uma idade cronológica, significa uma chama vital que sobrevive às intempéries da existência. O filme de Domingos Oliveira é a tentativa de apreender
essa chama.
O negociante milionário Davi (Paulo José) recebe em sua
luxuosa casa de campo o cardiologista Ulisses (Aderbal
Freire Filho) e o diretor de teatro e cinema Antonio (Domingos Oliveira) para um fim de semana de bebedeira e lembranças. Mais de meio século antes,
eles participaram juntos no ginásio de uma montagem de "A
Ceia dos Cardeais", do português Julio Diniz (1839-71).
No inevitável balanço de vida
suscitado pelo reencontro, delineiam-se as diferenças entre
os amigos quanto a um tema
central, o amor às mulheres,
que se revela o eixo do filme,
como aliás de toda a obra de
Domingos Oliveira.
Claro que nesse acerto de
contas com o passado entram
outras questões: os projetos de
vida, a militância política, o sonho de mudar o mundo.
O cineasta, autor também da
peça de teatro em que o filme se
baseia, conduz com segurança
e delicadeza esse "cinema de
câmara" (no sentido em que se
fala de "música de câmara"), ao
mesmo tempo íntimo e de escopo amplo, universal.
Já se detectou no cinema de
Oliveira a influência de Truffaut (sobretudo nos primeiros
filmes) e, cada vez mais, de
Woody Allen, com quem o diretor brasileiro comparte a visão
calorosa e irônica da vida, além
da verborragia.
Em "Juventude", valorizado
pela categoria e pela entrega
dos atores, há ecos também de
"A Comilança", só que em vez
do hedonismo apocalíptico do
filme de Marco Ferreri o que se
vê aqui, e que se revela no literalmente iluminado plano final, é uma ode à vida.
Enfraquece o todo um ocasional deslize para a autocomplacência, problema que afeta
outros trabalhos do diretor. As
formulações grandiosas -"a
nossa geração isso, a nossa geração aquilo"- acabam por
cansar o espectador, a não ser
quando têm um tom derrisório,
como esta, marota: "Nossa geração queria ser da máfia, mas
nós só vimos os filmes".
Seja como for, Domingos Oliveira, depois de ficar 20 anos
sem filmar (entre 1978 e 1998),
vem construindo na última década uma das obras mais sólidas e pessoais do cinema brasileiro, e "Juventude" é um ponto
alto dessa trajetória.
JUVENTUDE
Produção: Brasil, 2008
Direção: Domingos Oliveira
Com: Paulo José, Domingos Oliveira,
Aderbal Freire Filho
Onde: Espaço Unibanco Augusta 3 e
HSBC Belas Artes/Sala Aleijadinho
Classificação: não indicado a menores
de 12 anos
Avaliação: bom
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