São Paulo, domingo, 23 de janeiro de 2011

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OPINIÃO

Com esquema "2 em 1", Globo comprova que seus filmes são produtos para TV

MAURICIO STYCER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A exibição de "O Bem Amado" e "Chico Xavier" em forma de microsséries de quatro capítulos comprova a percepção que parte da crítica e do público tem alimentado em relação à produção cinematográfica da Globo Filmes -de que se trata, basicamente, de televisão levada ao cinema.
Não surpreende saber que os dois filmes já foram realizados com a intenção de gerar este subproduto, a microssérie. Cenas adicionais foram filmadas, em ambos os casos, com o propósito de serem acrescentadas na versão para a televisão.
Nada contra. Assim como também é altamente compreensível que a Globo Filmes dê apoio, basicamente, a projetos de grande apelo popular, adaptados ou não da grade de programação da TV.
Uma indústria de cinema que tenha esse nome precisa de público e é saudável que parte da produção atenda ao senso comum.
O que "O Bem Amado" e "Chico Xavier" parecem sugerir, porém, é que este tipo de produção "2 em 1", além de otimizar custos, se destina basicamente a satisfazer o gosto do público que assiste à televisão em casa e agora consegue guardar um extra para visitar o multiplex do shopping uma vez por mês.
"O Bem Amado", tanto o filme quanto a microssérie de Guel Arraes, é um produto simplório, em defesa da ideia, corroborada pela conversa de botequim, de que "ninguém presta" em política. "Contra os canalhas, somente agindo como um canalha", diz o dono do jornal que faz oposição a Odorico Paraguaçu.
No caso de "Chico Xavier", há um diferencial importante a se levar em consideração: a experiência de Daniel Filho com cinema -um meio que ele frequenta, como diretor, desde o final dos anos 60.
O sucesso nas bilheterias da história do médium mineiro deve-se muito à habilidade do diretor em fisgar o público pela emoção em uma produção caprichada.
Nada justifica, porém, o constrangimento de ver Daniel Filho optar pela "materialização" do espírito que Chico Xavier considerava seu guia. Emmanuel aparece à sombra do médium, e só é visto por ele. Orienta, cobra disciplina e dá instruções. É um jovem, alto, simpático, sempre vestido com uma túnica clara.

INFANTILIZAÇÃO
É, no fundo, uma opção que revela desconfiança do diretor na capacidade de compreensão do público, um traço típico da produção cada vez mais infantilizada da televisão.
Daniel Filho, um dos "magos" da Rede Globo nos anos 80 e 90, percorre um caminho curioso desde que perdeu espaço na última década. Tornou-se o capitão do braço cinematográfico da emissora, emplacando um sucesso atrás do outro. Agora, com a exibição de "Chico Xavier" na televisão, deixa claro que nunca saiu de casa.
MAURICIO STYCER é repórter e crítico do portal UOL


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