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Não somos favoritos
WALTER SALLES
especial para a Folha
Ao contrário dos festivais europeus (Berlim, Cannes, Veneza),
tradicionalmente abertos a diferentes cinematografias e por isso
mais facilmente decodificáveis,
eventos como o Globo de Ouro são
essencialmente voltados para o cinema americano, com códigos
próprios, que não conhecemos.
Nesse sentido, a indicação de
Fernanda Montenegro como melhor atriz na categoria drama já é
em si uma vitória, que reafirma o
seu imenso talento.
De qualquer forma, é necessário
ter recuo em relação a essas possíveis premiações, olhar o processo
com serenidade e pouco esperar,
até porque não somos favoritos.
É bom lembrar que filmes independentes são feitos ou deveriam
ser feitos apenas por desejo de cinema, por uma integridade de propósito. No caso de "Central do Brasil", os prêmios que recebemos são
a decorrência direta desse desejo
de se fazer um filme essencialmente brasileiro.
Assim, o que poderia ter acontecido de mais importante para o filme já ocorreu: o diálogo com o público no Brasil. Se esse diálogo não
tivesse acontecido, os 27 prêmios
que "Central" recebeu até agora
não teriam qualquer significado.
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