|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PERNAMBUCO EM CONCERTO
Recife festeja folclore musical
MARILENE FELINTO
enviada especial a Recife
Uma pequena
multidão se aglomerou no bairro do
Recife Antigo (centro), no último fim
de semana, para assistir aos shows do 2º Pernambuco em Concerto, misto de festival
com assessoria profissional para
grupos de folclore e músicos locais iniciantes ou pouco conhecidos.
A exemplo do Abril Pro Rock,
que revelou o conceito musical do
mangue beat, o Pernambuco em
Concerto tem a pretensão de seguir apostando no folclore e nos
ritmos regionais para descobrir
talentos.
O festival foi dividido em duas
etapas. Na primeira (dia 18), apresentaram-se grupos tradicionais
da música de raiz. O grupo sertanejo Coco Raízes de Arcoverde
empolgou a platéia ao colocar no
palco 30 músicos, cantadores e tocadores de um ritmo de coco peculiar: influenciado pela umbanda, acompanhado por forte repique de bombo e pela dança do
trupe, marcada por batida de tamancos.
Outro destaque da primeira leva foi o som de zabumba, triângulo e sanfona do forrozeiro e compositor de baião Vanildo de Pombos, que contou com a participação especial da mais conhecida
voz do coco pernambucano, dona
Selma.
No segundo dia, a qualidade
dos músicos caiu sensivelmente.
Apresentaram-se os grupos da
geração mais jovem e urbana. A
expectativa criada em torno do
nome de Alex S, vocalista da banda de mesmo nome, esteve longe
de se concretizar.
O músico, que diz estar buscando uma música popular elaborada, focando sua atenção "na melodia e o canto modal que vem do
aboio e do repente nordestino,
mas com influência do soul e do
jazz, entre outros", ficou só na
teoria. Apresentou repertório hesitante e sem graça, com letras fracas e cara de coisa nenhuma.
Mas se a novidade do Pernambuco em Concerto não se encontrava exatamente na música
-nas reedições de coco, maracatu ou forró e numa confusa onda
de fusões disso e daquilo-, estava na platéia.
O público que foi assistir ao
mestre de maracatu Salustiano,
54, tem idade média de 17 anos,
uma geração que canta e dança ao
som da Banda de Pífanos de Caruaru como se embalada por uma
banda de rock.
Mestre Salustiano, tocador de
rabeca há 30 anos, de pandeiro e
triângulo, também dançarino e
artesão, acha que "o que vem de
raiz, a raiz segura em pé".
Ele quer manter a tradição do
frevo e do arrasta-pé: "instrumentos eletrônicos e inovação
não me interessam para o meu
grupo. Acho bonito no grupo dos
outros. Meu negócio é o arrasta-pé, o forró pé-de-serra, que está
mais valorizado hoje porque a elite tomou gosto pelo forró."
Já Vanildo de Pombos, que tem
Luiz Gonzaga como mestre inspirador, diz que prefere manter a
tradição do forró e que "curtiu"
de longe Chico Science: "não consigo entender a forma como eles
fazem, a batida. Acho bonito, mas
não entendo como é esse estilo.
Eu sou do forró do chão de barro
batido, da sala de reboco, o forro
pé-de-serra autêntico."
Influenciada por Luiz Gonzaga
ou por Chico Science, o fato é que
a música de PE esforça-se para
não sair de cena. Dos mais velhos
aos mais novos, os músicos parecem empenhados em mostrar
que o som deles é mais poderoso
que o "axé" dos baianos.
Resta saber se a raiz segura os
galhos dessa árvore. A tirar pelos
novos brotos vistos na segunda
noite do festival, não segura.
Com apoio do Ministério da
Cultura e da Prefeitura de Recife,
o festival lançou o CD "Pernambuco em Concerto 2".
Texto Anterior: Hendricks é destaque no Rio Próximo Texto: Artes Plásticas: Masp festeja 100 anos de Bardi com mostra Índice
|