São Paulo, quarta-feira, 23 de fevereiro de 2000


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PERNAMBUCO EM CONCERTO
Recife festeja folclore musical

MARILENE FELINTO
enviada especial a Recife


Uma pequena multidão se aglomerou no bairro do Recife Antigo (centro), no último fim de semana, para assistir aos shows do 2º Pernambuco em Concerto, misto de festival com assessoria profissional para grupos de folclore e músicos locais iniciantes ou pouco conhecidos.
A exemplo do Abril Pro Rock, que revelou o conceito musical do mangue beat, o Pernambuco em Concerto tem a pretensão de seguir apostando no folclore e nos ritmos regionais para descobrir talentos.
O festival foi dividido em duas etapas. Na primeira (dia 18), apresentaram-se grupos tradicionais da música de raiz. O grupo sertanejo Coco Raízes de Arcoverde empolgou a platéia ao colocar no palco 30 músicos, cantadores e tocadores de um ritmo de coco peculiar: influenciado pela umbanda, acompanhado por forte repique de bombo e pela dança do trupe, marcada por batida de tamancos.
Outro destaque da primeira leva foi o som de zabumba, triângulo e sanfona do forrozeiro e compositor de baião Vanildo de Pombos, que contou com a participação especial da mais conhecida voz do coco pernambucano, dona Selma.
No segundo dia, a qualidade dos músicos caiu sensivelmente. Apresentaram-se os grupos da geração mais jovem e urbana. A expectativa criada em torno do nome de Alex S, vocalista da banda de mesmo nome, esteve longe de se concretizar.
O músico, que diz estar buscando uma música popular elaborada, focando sua atenção "na melodia e o canto modal que vem do aboio e do repente nordestino, mas com influência do soul e do jazz, entre outros", ficou só na teoria. Apresentou repertório hesitante e sem graça, com letras fracas e cara de coisa nenhuma.
Mas se a novidade do Pernambuco em Concerto não se encontrava exatamente na música -nas reedições de coco, maracatu ou forró e numa confusa onda de fusões disso e daquilo-, estava na platéia.
O público que foi assistir ao mestre de maracatu Salustiano, 54, tem idade média de 17 anos, uma geração que canta e dança ao som da Banda de Pífanos de Caruaru como se embalada por uma banda de rock.
Mestre Salustiano, tocador de rabeca há 30 anos, de pandeiro e triângulo, também dançarino e artesão, acha que "o que vem de raiz, a raiz segura em pé".
Ele quer manter a tradição do frevo e do arrasta-pé: "instrumentos eletrônicos e inovação não me interessam para o meu grupo. Acho bonito no grupo dos outros. Meu negócio é o arrasta-pé, o forró pé-de-serra, que está mais valorizado hoje porque a elite tomou gosto pelo forró."
Já Vanildo de Pombos, que tem Luiz Gonzaga como mestre inspirador, diz que prefere manter a tradição do forró e que "curtiu" de longe Chico Science: "não consigo entender a forma como eles fazem, a batida. Acho bonito, mas não entendo como é esse estilo. Eu sou do forró do chão de barro batido, da sala de reboco, o forro pé-de-serra autêntico."
Influenciada por Luiz Gonzaga ou por Chico Science, o fato é que a música de PE esforça-se para não sair de cena. Dos mais velhos aos mais novos, os músicos parecem empenhados em mostrar que o som deles é mais poderoso que o "axé" dos baianos.
Resta saber se a raiz segura os galhos dessa árvore. A tirar pelos novos brotos vistos na segunda noite do festival, não segura.
Com apoio do Ministério da Cultura e da Prefeitura de Recife, o festival lançou o CD "Pernambuco em Concerto 2".


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