|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Quando os yuppies dominavam a Terra
SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK
Os irritantes dot.commers -estes nerds endinheirados que até o ano passado
conquistaram o mundo com suas
ponto.com, seus i.p.o's (de preferência na frase: "O meu "aipiou"
foi um sucesso"), seus planos mirabolantes- há década e meia tinham outro nome. Chamavam-se
yuppies e trabalhavam no mercado financeiro. Usavam suspensórios, gel no cabelo, exibiam máquinas de fazer sushi em seus lofts
e colocavam as carreiras (de cocaína e profissionais) acima de tudo. Dominavam a Terra.
Passados os anos, metade está
na cadeia por fraude, metade está
em clínica de reabilitação de drogados, metade casou e tem filhos e
metade se associou com nerds
dot.commers (não estranhe a soma, havia muito mais do que duas
metades neste mundo em que tudo era superlativo).
Enquanto a era da Internet ainda espera a obra definitiva que a
traduza, os yuppies e os anos 80 tiveram pelo menos dois clássicos a
representá-los, o livro "A Fogueira das Vaidades", de Tom Wolfe,
e o subestimado filme "Wall
Street", de Oliver Stone.
E, agora, este "Psicopata Americano", que estréia hoje, baseado
no grande livro de Bret Easton
Ellis, de 1990. É dele também o autobiográfico "Abaixo de Zero",
escrito aos 23 anos, que deu origem a outro bom filme, em 1987.
Aqui, conta a história do jovem
e ambicioso corretor financeiro
Patrick Bateman, que trabalha na
Wall Street dos anos 80, sua noiva
fútil (Reese Whiterspoon), a secretária fiel (Chloë Sevigny) e a
amante drogada (Samantha Mathis). Ele leva uma vida dupla.
O outro lado de sua personalidade é um sádico serial killer, que
mantém um apartamento secreto
onde se diverte em retalhar prostitutas enquanto recita críticas de
álbuns da época (Phil Collins,
Whitney Houston) e para onde leva rivais e todos que aparentemente impeçam sua ascensão ao
topo do mundo.
Mas é isso mesmo?
Este roteiro improvável caiu nas
mãos de Mary Harron. A canadense estreou no longa com "Um
Tiro para Andy Warhol", mas não
a tenha em má conta por isso.
Aqui, faz uma obra tão perturbadora quanto o livro, com cenas
que rivalizam com a do cérebro
degustado de "Hannibal" no quesito "dificuldade de ver até o fim".
Recria cuidadosamente a atmosfera consumista e estéril da
época, a década perdida, e deve
grande parte de seu incômodo à
interpretação do galês Christian
Bale. Se você não se lembra, o herdeiro racista de "Shaft" e o repórter investigativo de "Velvet Goldmine". E o menino de "O Império
do Sol", de Spielberg, de 1987.
Está em seu melhor nos pequenos detalhes, como quando compara seu cartão de visitas com o
dos colegas e fica satisfeito por sua
letra em relevo ser a mais elegante. Até que chega um outro, com
um cartão ainda melhor, e então
ele se transforma.
Repare no filme que a TV exibe
quando Patrick/Christian está
malhando na bicicleta em seu
apartamento: "O Massacre da
Serra Elétrica". Não é por acaso.
Psicopata Americano
American Psycho
Direção: Mary Harron
Produção: EUA, 2000
Com: Christian Bale, Willem Dafoe
Quando: a partir de hoje nos cines ABC
Plaza Shopping, Top Cine e circuito
Texto Anterior: Cinema/Estréia - "Psicopata Americano": "Não gosto de violência; nem vi "Hannibal'" Próximo Texto: Frase Índice
|