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Marc Quinn dá sangue à escultura
CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Londres
A jovem arte
britânica está
com tudo e não
está prosa. A
maior evidência
disso foi a mostra "Sensation",
o mais inesperado sucesso de público do ano passado em Londres,
que exibiu 110 obras da coleção de
Charles Saatchi (leia texto abaixo),
entre elas três de Marc Quinn.
O artista londrino de 33 anos
conquistou o mundo das artes em
1991, quando realizou a escultura e
auto-retrato "Self", com 4,5 litros
de seu próprio sangue (aproximadamente a quantidade que um
corpo humano adulto comporta).
A escultura se apresenta sempre
em uma câmera refrigerada para
que não coagule.
"Para realizar "Self', tive que ir ao
médico durante seis meses para tirar sangue. Deveria ser nove, mas
tive que fazê-lo rápido porque eu
tinha a idéia e deveria finalizá-la
para uma mostra que já estava
programada", revelou à Folha,
por telefone, de Londres. A mostra
foi sua primeira individual, organizada por Jay Jopling (White Cube Gallery).
A obra discute questôes recorrentes no trabalho de Quinn, como imortalidade e transcendência. "Self" é vida, pois é sangue,
mas, desprovido de seu fluxo e calor, é também morte.
Como grande parte dos jovens
artistas britânicos, Marc Quinn
não se contamina com a arte conceitual dos anos 70 e se aproxima
de uma produção mais orgânica,
que dialoga com o corpo, sua fragmentação e desmaterialização,
inspirado não em escolas, mas em
expoentes individuais, como
Francis Bacon e toda a sua tragicidade e solidão.
A maioria de seus trabalhos refere-se ao corpo em transformação,
à dor e ao êxtase, sejam eles físicos
ou espirituais. Autobiográfico
convicto, Quinn se aproxima do
espectador e o deixa em situação
incômoda com temas obsessivos,
mórbidos e eficazes.
"A comunicação com as pessoas
é uma das coisas mais importantes
para um artista. A vida sem comunicação é chata. Eu gosto de fazer
trabalhos que você não precisa entender de arte para gostar deles."
Quinn exibe até 8 de março uma
série de novos trabalhos na South
London Gallery. A mostra é aberta
com uma grande escultura em gelo. "Across the Universe", novamente o corpo de Quinn, recupera
a temática de "Self".
"Across" é corpo, mas é frio, e o
congelamento, que serviria para
conservar um corpo com vida,
também é sinônimo de morte.
"Eternal Spring", um buquê de
girassóis preservado em uma massa de silicone, também lida com a
dicotomia de estar vivo e morto ao
mesmo tempo.
"Sempre estive muito interessado em questões científicas, como
para realizar "Eternal Spring'. Ela
discute questões como a imortalidade, essa dúvida constante torna
a questão sempre fascinante."
Os girassóis são uma clara referência a Van Gogh, um dos maiores ícones da história da arte. "Ela
mostra que ainda é possível ser um
artista, mas de uma maneira diferente. "Eternal Spring' não é apenas um buquê de flores, mas a
idéia de que a produção artística
sempre existirá, independentemente das mudanças", disse.
A trajetória de Quinn prossegue
em maio, quando o artista ganha
uma individual na galeria Gagosian, em Nova York, que exibe até
28 de fevereiro telas recentes de
Anselm Kiefer.
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