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CRÍTICA
Comédia sublinha diversidade do Fringe
NELSON DE SÁ
enviado especial a Curitiba
Na mostra teatral mais diversificada já vista no Brasil, o Fringe vai
confirmando Salvador como centro de um dos teatros mais dinâmicos, cujo expoente até aqui, no
festival, foi "Idiotas Que Falam
Outra Língua", encenada por Fernando Guerreiro.
O diretor baiano de comédias e
musicais de besteirol como "A
Bofetada" e "Camila Baker" arrisca agora um autor mais ambicioso, Rubem Fonseca, num de seus
poucos textos em forma predominantemente dramática -e
aparentemente incompleto, aliás.
O resultado não é nenhum mergulho autopunitivo no teatrão ou
no teatro experimental, até pelo
contrário: passadas as primeiras
cenas pouco consistentes, em
parte, registre-se, pelas limitações
cômicas do protagonista, "Idiotas" ganha um ritmo que nada fica devendo à lendária (para quem
vai a teatro) "Bofetada".
Com cenário e figurinos
"camp", abusando de cores berrantes e da moda fora de contexto, a peça é a mais divertida até
aqui no Festival de Curitiba, seja
no Fringe, seja na Mostra Oficial.
Mas não faltam problemas. A
trama demora a funcionar e depois termina abruptamente, sem
um final. As atuações são irregulares e parecem seguir linhas diversas, o que também ajuda a entender o estranhamento do início
da apresentação. De outro lado,
não se conseguiu levar plenamente à cena o realismo do autor nos
quadros de violência e sexo. São
bem coreografados, muito bem
realizados, mas o humor sem trégua os dilui. A inflexão anasalada,
recurso cômico já presente nas
peças anteriores de Guerreiro,
não aceita variações e dificulta o
aprofundamento nas obsessõesde Rubem Fonseca.
Menos escrachada, mais próxima da tradição popular do teatro
nordestino, ela, que vem do reino
pernambucano de Ariano Suassuna, "A Máquina" é igualmente
divertida e descompromissada.
Parte da Mostra Oficial, é uma engenhosa e bem acabada comédia
do diretor João Falcão.
Acompanha, com traços de modernização, um personagem de linha picaresca chamado Antônio,
que é desdobrado em quatro atores, todos de qualidade. Ele cria
uma máquina do tempo (ou "da
morte") e descobre como vencer
a pobreza e demais misérias do
mundo. A peça de Adriana Falcão
traz o melhor teatro de Pernambuco e Paraíba ao presente, sem
medo de recorrer a efeitos cênicos, também sem medo de abraçar o romance. No caso, entre Antônio e Karina, esta interpretada
por Karina Falcão, de passagens
emocionantes no espetáculo.
Como contraponto, ressalte-se
apenas uma ligeira mas insistente
superficialidade, no todo.
"Henrique 4º" nem parece,
mas é outra comédia. O texto de
Luigi Pirandello é dos mais inteligentes e esclarecedores da contemporaneidade, apesar de escrito em 1922, e entende-se facilmente por que foi selecionado pelo jovem elenco carioca, dirigido
por Antonio Guedes.
Mas a verborragia, que leva à
falta de ação, torna o espetáculo
arrastado como um teatro de tese.
E o protagonista, para uma peça
que pretende mostrar, como registra o programa, que "a vida é
menos real do que a arte", está
muito pouco real. Está por demais empostado, mascarado.
Sublinhem-se a atuação desenvolta de Cláudia Ventura, ótima
atriz, e a cenografia de Doris Rollemberg, desdobrando uma escadaria em várias direções, como a
auto-representação confusa do
personagem-título.
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