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CRÍTICA
Capital faz "Acústico" para constranger nossos filhos
especial para a Folha
O Capital Inicial, aquela banda
de Brasília cujo trademark é "eh-eh-eh/ô-ô-ô-ô/ah-ah-ah-ah" ou
volteios em torno, esteve anteontem no teatro Mars, em São Paulo, para gravar seu primeiro
"Acústico" -o formato popularizado pela MTV.
Sem sopros ou cordas, uma decisão sábia, a banda, que não tem
mais o original Bozzo Barreti, tocou reforçada pelo produtor Marcelo Sussekind (do último CD do
Ira!), pelo guitarrista Kiko Zambianchi, pelo percussionista Deni
Conceição e pelo tecladista Aislam Gomes, ex-fã recrutado por
conhecer melhor as músicas do
Capital do que o próprio grupo.
O disco sai em fim de maio, junto com a exibição do "Acústico".
Por alguns momentos, estar no
Mars significou voltar aos 80, entrar no velho prédio sem elevador
do Jardim São Paulo, dormir com
a tchula tendo a 89 FM como trilha. E isso era bom, donde é difícil
desgostar do Capital.
Menos por virtude deles, é verdade. Cheio de hits dos 80, como
"Fátima", "Veraneio Vascaína"
(faixa que chegou a ser censurada
e que fez com que a PolyGram colocasse aquela tarja de advertência na capa do vinil), "Fogo" etc.,
o repertório confirmou a pobreza
inescapável das letras.
Pode-se dizer que "Fátima" não
é pior que "Ana Júlia", do Los
Hermanos, e que o conjunto tem
refrões fortes, mas "Procuramos
independência/ Acreditamos na
distância entre nós" ("Independência"), "Só um leve desespero/
Que me leve/ Que me leve daqui
("Leve Desespero"), ou as talvez
25 vezes que "1999" é repetido
("1999") não classificariam o grupo nem no Fico.
Mas foi tudo fofo, para roubar a
expressão de um colega. Dinho
não vestia pelúcia, mas sorria seu
belo sorriso usado até quando critica a polícia; o cenário evocava a
parede de Athos Bulcão, um logo
para iniciados do DF; Zambianchi
ganhou homenagem com a inclusão de "Primeiros Erros" (fez a segunda voz, mais alta); Zélia Duncan surgiu para lembrar o colégio
Marista; Loro Jones parou intempestivamente uma música, reclamando da afinação do violão.
E os arranjos, calcados em violão e em efeitos sutis na guitarra
de Sussekind -inspirados talvez
em Donald Fagen-, funcionaram, ainda que a seção percussiva
estivesse muito à frente.
Ao apresentar as faixas, Dinho
dizia: "Essa foi feita há um zilhão
de anos" etc. Não soava cínico
-como Cadão Volpato, num recente show do Fellini-, nem
mesmo exagerado. Capital Inicial
é tão datado quanto a Jovem
Guarda. De tempos em tempos,
fazem uma festa no que restou do
Aero Anta (ou do QG, ou da Tífon, ou do Raio Laser), colocam-nos a todos lá dentro, fazem-nos
cantar alegremente os refrões, para constrangimento de nossos filhos e sobrinhos.
(PAULO VIEIRA)
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