São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"A CORRENTE DO BEM"

Longa é combinação ruim de papéis antigos

DE NOVA YORK

"A Corrente do Bem", que estréia hoje no Brasil, é uma afronta a qualquer um que se interesse por bom cinema e nutra esperança de que Hollywood nos surpreender de vez em quando.
Começa pelo título. Uma das traduções do título original, "Pay It Forward", quer dizer "Passe Adiante", mas pode significar "Pague Adiantado". O nome deveria ter sido mantido, já que foi a única atitude sincera que os produtores tiveram.
Uma outra opção teria sido chamá-lo de "Vá se Gostar de Qualquer Coisa" ou "Só Vale Se a Pipoca For Feita na Hora". É ruim e apelativo. E não foi por falta de bons ingredientes que a mistura não deu liga.
Helen Hunt repete o papel de garçonete e mãe solteira que a fez ganhar o Oscar por "Melhor É Impossível". E desta vez com bônus: é alcoólatra e bronzeada.
Tem o menino de "O Sexto Sentido", Haley Joel Osment, no mesmo papel. Só que, em vez de ver gente morta, ele vê gente boa e descobre um jeito de melhorar o mundo -a boa e velha pirâmide que fez meio mundo perder dinheiro enquanto meia dúzia de sortudos enchia a casa de novos eletrodomésticos no final da década de 80.
E tem Kevin Spacey num papel revelador sobre sua misteriosa personalidade: também faz filme ruim e é capaz de construir uma das personagens mais piegas do cinema. É o professor Eugene Simonet, que sofreu uma queimadura no corpo inteiro quando criança.
A história: Trevor (o moleque) é filho da garçonete bêbada com outro bêbado, este ausente e violento, interpretado (não é bem o verbo) por Jon Bon Jovi, inverossímil como sempre. Por sorte aparece, leva um sopapo e some.
Trevor tem um novo professor, o tal Eugene, que pede aos alunos que inventem um modo de mudar o mundo.
O menino "cria" a tal corrente do bem -vai ajudar três pessoas e pedir que cada uma delas ajude mais três e assim por diante até que, sem que ninguém perceba, estejamos todos de mãos dadas cantando "Hoje/ é um novo dia/ de um novo tempo".
Não conto o final para que você não transfira a raiva para o crítico, mas só posso dizer que uma Lady Di do subúrbio é encarnada, com direito a velas ao vento, vigília noite adentro, flores e lágrimas. E lágrimas. E lágrimas.
Moral da história: o mundo é uma droga, mas pode melhorar.
Moral da crítica: o filme é uma droga.
(SÉRGIO DÁVILA)



A Corrente do Bem
Pay It Forward

 
Direção: Mimi Leder
Produção: EUA, 2000
Com: Kevin Spacey, Helen Hunt, Haley Joel Osment
Quando: a partir de hoje nos cines Center Penha, Continental, Interlagos, Lar Center, Plaza Sul, Villa-Lobos e circuito




Texto Anterior: Crítica: Militarismo sobrevém a luta
Próximo Texto: 10º Festival de Teatro de Curitiba - Mostra Oficial: Projeto apresenta três textos de Beckett
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.