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"A CORRENTE DO BEM"
Longa é combinação ruim de papéis antigos
DE NOVA YORK
"A Corrente do Bem",
que estréia hoje no Brasil,
é uma afronta a qualquer um que
se interesse por bom cinema e nutra esperança de que Hollywood
nos surpreender de vez em quando.
Começa pelo título. Uma das
traduções do título original, "Pay
It Forward", quer dizer "Passe
Adiante", mas pode significar
"Pague Adiantado". O nome deveria ter sido mantido, já que foi a
única atitude sincera que os produtores tiveram.
Uma outra opção teria sido chamá-lo de "Vá se Gostar de Qualquer Coisa" ou "Só Vale Se a Pipoca For Feita na Hora". É ruim e
apelativo. E não foi por falta de
bons ingredientes que a mistura
não deu liga.
Helen Hunt repete o papel de
garçonete e mãe solteira que a fez
ganhar o Oscar por "Melhor É
Impossível". E desta vez com bônus: é alcoólatra e bronzeada.
Tem o menino de "O Sexto Sentido", Haley Joel Osment, no mesmo papel. Só que, em vez de ver
gente morta, ele vê gente boa e
descobre um jeito de melhorar o
mundo -a boa e velha pirâmide
que fez meio mundo perder dinheiro enquanto meia dúzia de
sortudos enchia a casa de novos
eletrodomésticos no final da década de 80.
E tem Kevin Spacey num papel
revelador sobre sua misteriosa
personalidade: também faz filme
ruim e é capaz de construir uma
das personagens mais piegas do
cinema. É o professor Eugene Simonet, que sofreu uma queimadura no corpo inteiro quando
criança.
A história: Trevor (o moleque) é
filho da garçonete bêbada com
outro bêbado, este ausente e violento, interpretado (não é bem o
verbo) por Jon Bon Jovi, inverossímil como sempre. Por sorte aparece, leva um sopapo e some.
Trevor tem um novo professor,
o tal Eugene, que pede aos alunos
que inventem um modo de mudar o mundo.
O menino "cria" a tal corrente
do bem -vai ajudar três pessoas
e pedir que cada uma delas ajude
mais três e assim por diante até
que, sem que ninguém perceba,
estejamos todos de mãos dadas
cantando "Hoje/ é um novo dia/
de um novo tempo".
Não conto o final para que você
não transfira a raiva para o crítico,
mas só posso dizer que uma Lady
Di do subúrbio é encarnada, com
direito a velas ao vento, vigília
noite adentro, flores e lágrimas. E
lágrimas. E lágrimas.
Moral da história: o mundo é
uma droga, mas pode melhorar.
Moral da crítica: o filme é uma
droga.
(SÉRGIO DÁVILA)
A Corrente do Bem
Pay It Forward
Direção: Mimi Leder
Produção: EUA, 2000
Com: Kevin Spacey, Helen Hunt, Haley
Joel Osment
Quando: a partir de hoje nos cines
Center Penha, Continental, Interlagos,
Lar Center, Plaza Sul, Villa-Lobos e
circuito
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