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"SOBRAL PINTO: A CONSCIÊNCIA DO BRASIL"
Olhar americano esquadrinha o "inimigo nš 1 de Getúlio Vargas"
GILBERTO FELISBERTO VASCONCELLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Até hoje aclamado brilhante
advogado, defendendo gregos e troianos, sem jamais dobrar-se à pecúnia, o mineiro Sobral Pinto é o lídimo exemplo do
homem com profissão, ao contrário do conterrâneo Oswald de Andrade, que exerceu a atividade
pública de escritor autodefinindo-se um homem sem profissão.
E mais: um homem que se encontrava sob as ordens de mamãe.
Já vai se tornando lugar comum
na copiosa historiografia brasilianista a obsessão em esculhambar
o que representou o presidente
Getúlio Vargas na história do
país. É como se os historiadores
norte-americanos estivessem em
perfeita sintonia ideológica à vontade de enterrar a era Vargas, com
o objetivo de fazê-la sumir da memória dos brasileiros.
O conteúdo do prolixo livro do
senhor John W. Foster Dulles, o
anti-Nélson Werneck Sodré na
maneira de narrar nossa história,
corresponde ao que está anunciado no título: líder do pensamento
cristão, o longevo Sobral Pinto,
morto aos 98 anos em 91, é considerado a "consciência do Brasil".
Essa consciência se deve, de acordo com Dulles, ao fato de Sobral
Pinto, entre outras prebendas, ter
encetado uma "cruzada" contra o
regime de Getúlio Vargas. Satanás
é Vargas para Sobral Pinto.
Ficou injuriado, nos anos 30,
quando soube que uma de suas filhas, com dez anos de idade, teve
de ler "História da Civilização",
de Monteiro Lobato, a quem considerava um escritor de mentiras
e falsificações. Amigo de Alceu de
Amoroso Lima, foi adversário do
laicismo educacional de Anísio
Teixeira e defensor da escola pública junto com o sociólogo Florestan Fernandes. Desde os anos
30, Vargas encarnou o demônio
"caudilho" por ter sido influenciado pelo positivismo castilhista
gaúcho. É o Sobral Pinto antecipando a UDN. Numa carta, negou
alguma novidade ao Estado Novo
getuliano, porque originou-se
"daquela ditadura positivista
mesclada de caudilhismo gaúcho,
que Júlio de Castilhos traçara para
o Rio Grande do Sul nos começos
da República". Ficou com fama
de democrata, de inimigo da ditadura e do terrorismo policial. Em
determinado momento chegou a
reconhecer que Getúlio Vargas
contribuiu para a melhoria da
classe trabalhadora brasileira.
É uma pena que o pesquisador
John W. Foster Dulles, tendo
acesso às cartas de Sobral Pinto,
esse epistoleiro compulsivo, não
as tenha publicado integralmente.
É realmente lastimável. Nessa, o
leitor, não o afortunado autor,
saiu perdendo deveras.
Gilberto Felisberto Vasconcellos é
professor de ciências sociais da Universidade Federal de Juiz de Fora e autor, entre outros, de "Glauber Pátria Rocha Livre" (Senac)
Sobral Pinto: A Consciência do Brasil
Autor: John Foster Dulles
Tradução: Flávia Araripe
Editora: Nova Fronteira
Quanto: R$ 35 (448 págs.)
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