São Paulo, terça-feira, 23 de março de 2004

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Guerra chegou à Europa, diz diretor da trupe

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A guerra que começou no dia 20 de março do ano passado, com os bombardeios lançados pelas forças lideradas pelos EUA sobre Bagdá, chegou à Europa. É assim que Miki Espuma, 45, diretor do grupo teatral La Fura dels Baus, encara os atentados que mataram 201 pessoas em Madri.
"Sinto como se estivéssemos em guerra, que vivemos em um lugar como o Iraque", disse à Folha, em entrevista por telefone. Ele vive em Barcelona, a mais de 600 km de Madri.
O que o deixa mais intrigado, enfatizou, é que esse tipo de atentado foi planejado para provocar esse tipo de pavor, para desestabilizar a todos, e não há maneira de escapar dessa armadilha do terror. "Não há teatro capaz de rivalizar a uma ação desse gênero, que provoque um clímax desses. É um ato monstruoso."
O teatro do Fura, sustentado pela violência simbólica e movido a sustos, sangue e motosserra, já foi comparado por alguns críticos a uma espécie de terrorismo.
Nada mais equivocado, segundo Espuma. "A representação da violência é muito distante da violência real. A idéia do Fura é provocar o debate sobre a violência, jamais estimular a violência."
Não há sentido em comparar a violência teatral com o terror porque obedecem a propósitos opostos, diz ele. "Representamos as coisas de uma forma monstruosa para discutir idéias. Os terroristas não querem discutir nada. Querem impor."
Para Espuma, o desprezo pelo diálogo coloca os terroristas da Al Qaeda, o presidente dos EUA, George W. Bush, e os separatistas bascos do ETA no mesmo barco. "Eles têm o mesmo código ético. Se dialogassem, deixariam de ser violentos."
A pregação do Fura não é restrita ao palco. O grupo ajudou a coletar 13 mil assinaturas para que o ex-primeiro-ministro José María Aznar seja julgado pelo Tribunal de Haia por ter levado os espanhóis à guerra contra a vontade da população.


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