|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Não gostei
Filme segue o caminho fácil da falsa subversão
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Alguns críticos defendem que representar o
mal, em cinema, seria
algo impossível. A câmera só
realizaria bem o seu trabalho se
aquilo que estivesse posto
diante dela fosse algo conhecido e amado pelo diretor. De fato, representar o mal ou aquilo
que se despreza é uma questão
complicadíssima, mas reduzir
o problema a uma espécie de
vocação do cinema para o bem
é uma idéia simplista e que só
reforça tabus. A maior parte
dos filmes que propõem encarar esse desafio, no entanto,
não colaboram. As soluções fáceis são tentadoras demais.
"O Cheiro do Ralo", por
exemplo, se apresenta como o
retrato de um cara "escroto".
Esse ponto de partida pode até
garantir ao filme o mérito da
audácia e um diferencial em
meio ao panorama inodoro do
cinema brasileiro recente, mas
não o exime de seus problemas.
A questão fundamental não é
só retratar a escrotidão, mas
como fazê-lo. Mil filmes poderiam ter sido feitos partir da
obra de Lourenço Mutarelli, e o
de Heitor Dhalia escolhe o caminho da pseudo-subversão.
Dhalia pode até ter sido corajoso no que tenta dizer, mas, na
forma, assume uma posição um
tanto medrosa. O humor, por
exemplo, está mais para um cinismo vazio do que para uma
ironia crítica, como num simulacro de um filme independente americano à moda de Tarantino. Assim, as características
centrais da "escrotidão" do personagem principal -a detenção de um certo poder mesquinho e o abuso sádico desse poder- são esvaziadas de seu sentido crítico em nome de um jogo de sedução do espectador.
Há ainda outros aspectos formais que comprometem o filme. Se Dhalia demonstra talento para a composição do quadro, falha no ritmo, ao investir
tempo e energia em situações
repetitivas.
AVALIAÇÃO: Ruim
Texto Anterior: Gostei: Universo de Mutarelli é bem adaptado Próximo Texto: Mônica Bergamo Índice
|