São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2007

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Não gostei

Filme segue o caminho fácil da falsa subversão

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Alguns críticos defendem que representar o mal, em cinema, seria algo impossível. A câmera só realizaria bem o seu trabalho se aquilo que estivesse posto diante dela fosse algo conhecido e amado pelo diretor. De fato, representar o mal ou aquilo que se despreza é uma questão complicadíssima, mas reduzir o problema a uma espécie de vocação do cinema para o bem é uma idéia simplista e que só reforça tabus. A maior parte dos filmes que propõem encarar esse desafio, no entanto, não colaboram. As soluções fáceis são tentadoras demais.
"O Cheiro do Ralo", por exemplo, se apresenta como o retrato de um cara "escroto". Esse ponto de partida pode até garantir ao filme o mérito da audácia e um diferencial em meio ao panorama inodoro do cinema brasileiro recente, mas não o exime de seus problemas.
A questão fundamental não é só retratar a escrotidão, mas como fazê-lo. Mil filmes poderiam ter sido feitos partir da obra de Lourenço Mutarelli, e o de Heitor Dhalia escolhe o caminho da pseudo-subversão.
Dhalia pode até ter sido corajoso no que tenta dizer, mas, na forma, assume uma posição um tanto medrosa. O humor, por exemplo, está mais para um cinismo vazio do que para uma ironia crítica, como num simulacro de um filme independente americano à moda de Tarantino. Assim, as características centrais da "escrotidão" do personagem principal -a detenção de um certo poder mesquinho e o abuso sádico desse poder- são esvaziadas de seu sentido crítico em nome de um jogo de sedução do espectador.
Há ainda outros aspectos formais que comprometem o filme. Se Dhalia demonstra talento para a composição do quadro, falha no ritmo, ao investir tempo e energia em situações repetitivas.


AVALIAÇÃO: Ruim

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