São Paulo, sexta-feira, 23 de março de 2007

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Crítica/"Número 23"

Fórmula da reviravolta estraga condução de thriller

CRÍTICO DA FOLHA

Uma piada recorrente entre jornalistas que utilizam estatísticas em seus textos diz que os números, quando bem torturados, dizem qualquer coisa. Premissa equivalente é o ponto de partida do thriller neo-noir "Número 23".
Para prazer dos espectadores numerólogos, os créditos de abertura vêm recheados de referências a acontecimentos históricos, como as datas de nascimento e de morte de Shakespeare (23 de abril) e o 11 de Setembro (11+9+2+0+0+1=23).
Outros tantos abundarão ao longo da história.
O problema desse tipo de jogo, porém, é o mesmo com que se depara o filme de Joel Schumacher: que fazer com tantos possíveis significados?
Refém de um suposto código determinista, o pacato Walter Sparrow (Jim Carrey, em versão sorumbática) tem sua vida virada ao avesso a partir do encontro com um cachorrão que escapa de seu controle e o faz atrasar um encontro. O efeito dramático seguinte o levará a descobrir, largado na estante de uma livraria, um volume intitulado "O Número 23".
Numa situação semelhante a "Mais Estranho que a Ficção", o personagem passa a ter seu destino guiado pela história narrada no tal livro, lotado de associações com o número 23.
Como se não bastasse desenvolver um enigma estimulante o suficiente para fazer divertir e amedrontar com a deriva em que lança o personagem, o roteiro inventa uma duplicidade, transformando Sparrow numa versão pós-modernosa de detetive, com direito a "femme fatales" e outros clichês do gênero.
Mas, quando entra na contramão de suas referências, "Número 23" perde o interesse.
Enquanto o noir se abastecia do acúmulo de pistas falsas, de mutações radicais na moral dos personagens e em deixar insolúveis as investigações de onde partia, dissipadas por muitas outras que surgiam no caminho, "Número 23" avança até o limite do enigma para em seguida entregar ao espectador sua solução em minúcias, recorrendo à fórmula da reviravolta abrupta que explica tudo.
A impressão é que pagamos para entrar num trem fantasma e fomos parar num inofensivo carrossel. (CSC)

NÚMERO 23
Direção: Joel Schumacher
Produção: EUA, 2007
Com: Jim Carrey, Virginia Madsen
Quando: em cartaz nos cines Jardim Sul, Iguatemi Playarte e circuito
Avaliação: Ruim

Leia entrevista com o diretor Joel Schumacher


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