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Crítica/"Número 23"
Fórmula da reviravolta estraga condução de thriller
CRÍTICO DA FOLHA
Uma piada recorrente
entre jornalistas que
utilizam estatísticas
em seus textos diz que os números, quando bem torturados, dizem qualquer coisa. Premissa equivalente é o ponto de
partida do thriller neo-noir
"Número 23".
Para prazer dos espectadores
numerólogos, os créditos de
abertura vêm recheados de referências a acontecimentos
históricos, como as datas de
nascimento e de morte de Shakespeare (23 de abril) e o 11 de
Setembro (11+9+2+0+0+1=23).
Outros tantos abundarão ao
longo da história.
O problema desse tipo de jogo, porém, é o mesmo com que
se depara o filme de Joel Schumacher: que fazer com tantos
possíveis significados?
Refém de um suposto código
determinista, o pacato Walter
Sparrow (Jim Carrey, em versão sorumbática) tem sua vida
virada ao avesso a partir do encontro com um cachorrão que
escapa de seu controle e o faz
atrasar um encontro. O efeito
dramático seguinte o levará a
descobrir, largado na estante
de uma livraria, um volume intitulado "O Número 23".
Numa situação semelhante a
"Mais Estranho que a Ficção",
o personagem passa a ter seu
destino guiado pela história
narrada no tal livro, lotado de
associações com o número 23.
Como se não bastasse desenvolver um enigma estimulante
o suficiente para fazer divertir e
amedrontar com a deriva em
que lança o personagem, o roteiro inventa uma duplicidade,
transformando Sparrow numa
versão pós-modernosa de detetive, com direito a "femme fatales" e outros clichês do gênero.
Mas, quando entra na contramão de suas referências,
"Número 23" perde o interesse.
Enquanto o noir se abastecia
do acúmulo de pistas falsas, de
mutações radicais na moral dos
personagens e em deixar insolúveis as investigações de onde
partia, dissipadas por muitas
outras que surgiam no caminho, "Número 23" avança até o
limite do enigma para em seguida entregar ao espectador
sua solução em minúcias, recorrendo à fórmula da reviravolta abrupta que explica tudo.
A impressão é que pagamos
para entrar num trem fantasma e fomos parar num inofensivo carrossel.
(CSC)
NÚMERO 23
Direção: Joel Schumacher
Produção: EUA, 2007
Com: Jim Carrey, Virginia Madsen
Quando: em cartaz nos cines Jardim Sul, Iguatemi Playarte e circuito
Avaliação: Ruim
Leia entrevista com o diretor Joel Schumacher
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