São Paulo, terça, 23 de março de 1999
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SHOW CRÍTICA
Deep Purple continua vivo e muito bom

ROGÉRIO SIMÕES
da Redação

Um garoto, aparentando 18 anos e vestindo uma camiseta da banda punk-pop Offspring, aguarda na fila do Via Funchal. Para ver quem? Bad Religion? Green Day? Bush? Não, Deep Purple.
Mas o que faz ele ali, afinal? Quando ele nasceu, os astros da noite já eram uma banda morta, ídolos do hard rock de arena que o punk prometeu destruir.
Em torno dele, velhos quarentões saudosistas, certo? Não exatamente. No meio da massa, a figura do garoto que está começando a dirigir se multiplica.
Quando a gente percebe, os meninos, com suas bermudas de surfista, já tomaram conta da platéia. Onde está o segredo? Fãs de rock costumam ser jovens. Como a maioria das pessoas, gostam de mitos. E Deep Purple é um mito que mostraria ser ainda uma banda excepcional.
Quando o grupo sobe ao palco, os garotos olham como se não acreditassem. Ian Gillan de cabelo curto, mas com a voz afinadíssima. Em "Strange Kind of Woman", o primeiro clássico da noite, o público pula de forma anárquica, como se estivesse em um show punk.
Chega "Bloodsucker" e percebe-se que Gillan não vai deixar barato: arrisca (e se dá bem) ousados agudos. "Pictures of Home", com a tradicional paradinha no final, dá início à primeira série de solos e improvisos. Show!
Difícil dizer o que mais mexeu com os jovens e velhos fãs. "Speed King" (até hoje, uma das músicas mais pesadas de todos os tempos), a maravilhosa "Lazy" ou "Woman from Tokyo", cantada por todos, como se estivesse sendo tocada todos os dias nas rádios do país.
Steve Morse é um espetáculo à parte. Respeita os solos originais de Ritchie Blackmore, mas dá seu toque todo pessoal.
Sozinho no palco, ele entra com as famosas notas de "Kashmir", do Led Zeppelin. Ian Paice passa a acompanhá-lo na bateria, numa rápida homenagem ao histórico parceiro de hard rock do Purple. Morse ainda homenageia Hendrix, com "Voodoo Chile".
Em seguida, "Smoke on the Water", que em resposta da platéia só perdeu para "Perfect Strangers". Como se conhecessem todas as notas já criadas pela banda, os fãs reagem em coro ao início de "Black Night". "Highway Star" acaba com o que havia sobrado de músculos e ossos de qualquer um.
O garoto com a camisa do Offspring pensa: "Como eles conseguem?". Difícil para ele vai ser encarar agora os lançamentos de hoje em dia. Pelo menos ele conheceu aqueles que fizeram alguns dos maiores clássicos da história. E que continuam vivos. E muito bons.


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