São Paulo, segunda-feira, 23 de abril de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Picasso: As Grandes Séries" e "Édipo Rei - Picasso e o Teatro" vão até junho na Europa

2 x Picasso


Duas mostras revelam traços menos conhecidos da obra do artista espanhol; em Madri, recriações de quadros clássicos; em Paris, cenários e figurinos criados para tragédia grega


LILIAN CHRISTOFOLETTI
DE MADRI

O Museu Reina Sofia, em Madri, conseguiu reunir pela primeira vez seis grandes séries de Pablo Picasso. Algumas dessas obras, realizadas nos últimos 20 anos da vida do pintor espanhol, nunca haviam sido exibidas.
O resultado é surpreendente e acaba com o mito de que o impulso inovador de Picasso teria decaído a partir da década de 40 ou após pintar "Guernica" (obra sobre a Guerra Civil da Espanha).
São exatamente os últimos quadros do pintor, feitos entre 1953 e 1973, que ilustram "Picasso: As Grandes Séries". A exposição, inaugurada há menos de um mês no Reina Sofia, converteu-se rapidamente em uma das mais importantes da Europa.
Nos 127 quadros e desenhos reunidos, Picasso entrega-se de forma sistemática e obsessiva a releituras de obras de pintores clássicos como Velázquez ou Manet, em uma constante confrontação com o seu próprio estilo.
A mostra começa com a série "Las Mujeres de Argel", inspirada no quadro homônimo de Delacroix. Picasso criou e recriou 15 quadros completamente diferentes. A série foi feita entre dezembro de 1954 e fevereiro de 1955, com uma única semana de pausa.
Depois de Delacroix, o alvo de Picasso foi o pintor espanhol Velázquez, com a série "Las Meninas", em que recria o quadro clássico, em versões ora barrocas, ora esquemáticas, algumas coloridas, outras preto-e-brancas.
Nas séries "El Almuerzo Campestre" (inspirada em Manet) e "El Rapto de las Sabinas" (Poussin), Picasso aprofunda a arte de imprimir estilo próprio aos clássicos, sem ser tragado por eles.
Nos últimos dois ciclos da exposição, as fontes inspiradoras estão em seu ofício -"El Pintor y su Modelo" e "El Estudio del Pintor", na qual representa seu estúdio, um templo onde só podiam entrar Jacqueline Roque, sua última mulher, com quem passou os últimos 20 anos de sua vida, e seu fiel secretário Sabartés.
Para todas as séries, a direção do Reina Sofia preparou ante-salas com os desenhos preparatórios de Picasso. Por eles, é possível acompanhar um pouco o processo criativo, suas idéias e os detalhes que dedicou a certas figuras.

Revisão
Para a curadora Paloma Esteban, o conjunto é uma chance única para conhecer as duas últimas décadas do pintor espanhol que, segundo ela, ainda carecem de um estudo mais aprofundado.
"Alguns temas ainda estão pendentes de revisão, por isso a exposição deve interessar muito a todos que amam a pintura, a arte e que admiram Picasso", disse.
Com a ajuda da família do pintor, Paloma passou três anos tentando convencer colecionadores particulares a emprestar obras para a mostra. Alguns proprietários, temendo danos, se recusaram a emprestar seus quadros.
Os 127 quadros e desenhos chegaram de 70 colecionadores e museus de toda a Europa, Estados Unidos, Japão e Austrália.
Para Paloma, em suas duas últimas décadas, "Picasso explora obras clássicas por um desafio pessoal de confrontar o seu estilo e pelo desejo de se opor à abstração. Apesar de sempre ter resistido a essa abstração, foi nos últimos 20 anos de sua vida que ele encontrou o apogeu".
A mostra vai até 16 de junho. Segundo o museu, não haverá prorrogação ou itinerância, pois os colecionadores estão "ansiosos" por resgatar suas obras.



Texto Anterior: Rádio: Programa "Trip 89" volta à FM
Próximo Texto: Mostra em Paris revela bastidores de montagem de "Édipo Rei"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.